quinta-feira, 15 de março de 2012

Defesa: "Khilá! (Des)encontros da Voz na Travessia Brasil-Moçambique"

Esta semana aconteceu a defesa da tese de doutorado da nossa colega Roselete, com o título "Khilá! (Des)encontros da Voz na Travessia Brasil-Moçambique", muito emocionante e especial!!

Com isto, resolvi postar sobre ela e sobre as últimas 4 defesas que compareci, super especiais e que podem ilustrar um pouquinho dos trabalhos realizados pelos colegas do Grupo de Pesquisa Núcleo Infância Comunicação e Arte (NICA), da linha (ou curva, espiral, círculo) de pesquisa Educação e Comunicação do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC.

Começo com minhas impressões e 'pescadas' sobre o trabalho da Roselete Fagundes de Aviz de Souza -"Khilá! (Des)encontros da Voz na Travessia Brasil-Moçambique" 

Banca:
Dra. Gilka Elvira Ponzi Girardello (CED/UFSC-Orientadora)
Dr. José de Sousa Miguel Lopes (UEMG-Examinador)
Dra. Ida Mara Freire (CED/UFSC-Examinadora)
Dr. Wladimir Antonio da Costa Garcia (CED/UFSC-Examinador)
Dra. Glória Mercedes Valdívia Kirinus (UFPR-Examinadora)
Dra. Telma Anita Piacentini (UFSC-Suplente)
Dra. Mônica Fantin (CED/UFSC-Suplente)



E participação da cineasta moçambicana Isabel Noronha.

 
Em conversa com Roselete, ela me disse que sua inquietação e curiosidade partiam da pergunta "Como a mídia interfere na 'voz' das pessoas?" e em sua travessia, novas questões, inquietações e curiosidades moldaram outras possibilidades de trabalho.

Em relação a Educação, seu trabalho reflete sobre a questão da formação e da voz como algo aberto, como uma viagem, como um devir. Sobre o professor como um viajante, sem itinerário ou cartilha. Seria possível?!

'Khilá!' significa uma interjeição que esboça uma tentativa de canção, ou no caso, de uma pesquisa de doutorado.

Roselete também falou sobre a importância da pausa na pesquisa, na vida, no aprendizado. O vazio, pausa, intervalo, silêncio como essencial para criação, produção e funcionamento das coisas. Ela diz que 'o entre é essencial para o movimento". E cita Barthes e sua ideia de neutro e das coisas que se sobrepõem. 

Para ilustrar essa relação da voz e do silêncio, Rose trouxe a música "O silêncio" de Arnaldo Antunes:

"antes de existir computador existia tevê
antes de existir tevê existia luz elétrica
antes de existir luz elétrica existia bicicleta
antes de existir bicicleta existia enciclopédia
antes de existir enciclopédia existia alfabeto
antes de existir alfabeto existia a voz
antes de existir a voz existia o silêncio
o silêncio
foi a primeira coisa que existiu
um silêncio que ninguém ouviu...."

Roselete então apresentou a proposta da sua tese e como pensar 'a voz' na perspectiva de vários pensadores, artistas e autores, no capítulo "Sete visitas à exposição na casa da voz": Derrida, Barthes, Deleuze, Guattari, Kandisky, Mia Couto, Nietzsche, foram alguns deles.

Voz como morada e narrativa, como diferença, como formadora de subjetividade, como algo que não precisa da presença física, voz como escuta, silêncio, vazio. Porque o branco, vazio, silêncio nem sempre são 'o Nada', mas possibilidades e alegrias. Mas ela diz que o silêncio também violência, medo e é através da expressão e da arte que às vezes pode ser superado.

Rose também trouxe a influência de Deleuze e da importância da decepção, do desencontro, momento fundamental da busca. Ela diz que o 'toque', a sacada, a compreensão e aprendizado pode acontecer muito tempo depois da experiência vivenciada. 

Rose então encerrou falando sobre como seu trabalho poderia ser aproveitado na educação. Talvez um 'fazer pensar' sobre uma outra didática, uma nova postura do professor diante da educação, "ir não sei aonde, buscar não sei o quê!" (Angela Lago) ou melhor seria: ir para algum lugar fazer/buscar alguma coisa, só não saber exatamente o quê. Postura de descompromisso, desencontro, desaprendizado, de liberdade frente ao convite de mudança. Postura de 'ser no fazer, a partir do fazer'.

"Uma janela se abriu
Um sol poente se fez
A melodia surgiu
Assim toda de uma vez!"
(Aline Frazão)

Rose iniciou sua fala cantando Aline Frazão e terminou com este belo verso! =)

Considerações da banca:

Não fiquei até o final, mas ouvi alguns comentários muito bacanas.

A Profª Glória Mercedes Valdíria Kirinus falou sobre a condição de julgamento de uma banca (ataque/defesa) e preferiu chamar aquele momento de 'dança'. Disse uma frase muito bacana "quando leio algo, sou contagiada profundamente pelo discurso e fica difícil dizer algo sem estar impregnada por essa voz que me contagia." Falou também sobre a relação do trabalho de Rose com o conhecimento bíblico e a criação divina, Deus 'foi de um lugar a outro'. Criar como viajar, se transportar. Na Grécia, ônibus significa metáfora! Talvez por isso, para irmos a algum lugar, ás vezes precisamos de 'metáforas'.

Ela diz que o que torna uma tese rica, é a capacidade de provocação para novas leituras e resgate de velhas. Talvez por isso, ao lermos muito, em conversas é inevitável não resgatar autores, estabelecer relações e articular com a fala, típico de um membro de uma banca, mas de quem se dispõe a estudar mais e mais!


Já o Profº Miguel Lopes citou Saramago: "Às vezes precisamos caminhar para bem longe, para encontrar o que está bem perto!" E Rose confirmou, dizendo que às vezes é necessário sair da escrita para dar conta dela e percebeu isso fazendo um curso de cerâmica, onde aprendeu que é possível limpar (mais) algo que parecia pronto e do olhar de perto e à distância.

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