segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ABCiber 2011 - “Ator-rede e cibercultura”


com Fernanda Bruno (UFRJ), Erick Felinto Oliveira (UERJ), Lúcia Santaella (PUC-SP)e Theophilos (via web-conferência) e André Lemos (não pode comparecer)

Resumos dos Trabalhos e comentários disponíveis aqui!

Fui assistir a essa mesa temática "Ator-rede e cibercultura” do 5 Simpósio ABCiber 2011, dica da colega nic@ Lyana e gostaria de ressaltar que é um assunto 'novo' pra mim e apenas anotei aquilo que consegui pescar nas apresentações. Em geral foi bem interessante, porque me pareceu uma nova proposta de pensar a pesquisa acadêmica, através dos 'rastros' que deixamos ao navegar e 'agir' na 'rede'. Como discutimos esse momento de 'hibridismos' na sociedade 'midiática e digitalizada', parece um assunto de extrema importância para entender pensamentos, movimentos, falas atuais e futuras na Academia. 
 
Achei curiosa a fala de Lucia Santaella: "Eu sempre digo aos meus alunos: se não conhecerem 30% da obra de determinado autor, nem citem!" hahaha Ótima fala! Fica dica dela!

Enfim, espero que a contribuição seja útil de alguma forma!! Seguem as impressões de cada apresentação, na ordem em que aconteceram!

O social não existe de muitas maneiras; o social está por fazer. Ressonâncias de uma ontologia política das redes para a cibercultura”

Fernanda Bruno

Fernanda diz que ‘o social não existe de muitas maneiras, pois está por vir’. Cita Bruno Latour e Aristóteles para afirmar que o ser ‘existe’ de muitas maneiras e está por ‘descrever’. Distingue humanos de não-humanos, onde inclui seres não-humanos naturais e artificiais (computador, Internet, etc). Com isto, diz que agir é produzir uma diferença e que nunca agimos sós, portanto um ator-rede pratica uma ação distribuída, onde não somos senhores de nossas próprias ações, nunca agimos sós e nem somos conscientes de nossas ações. Cita Marx ao dizer que para ele é a condição social que define nossa consciência. E questiona: “Quem age conosco?” E responde dizendo que são entidades invocadas, coletivos sociotécnicos.
Neste sentido, as ações do ator-rede deixam rastros. Toda ação no ambiente virtual (internet) deixa rastros que podem ser potencializados e utilizados para vigilância, fins publicitários, etc.
Fernanda diz que se antes haviam pesquisas, questionários, etc para fazer levantamento de dados, hoje estes ‘rastros’ através de programas e sistemas de coleta de dados acessam informações que antes eram de difícil acesso.
Ela mostrou alguns exemplos de infográficos com dados de usuários do Twitter, onde um analisava a expansão da primeira tuitada sobre o terremeto Virgínia. Em outro exemplo, o infográfico mostrava o rastreamento de posições políticas a partir do twitter, produzindo ‘desenhos’ globais – mapas. Em um terceiro exemplo o infográfico era interativo e rastreava o aspecto político social do mundo em tempo real. Fernanda acredita que esse conhecimento dos rastros proporciona uma reinvenção política, na medida em que coleta dados em tempo real. Ela mostrou outro exemplo de infográficos que ‘desenham’ as revoluções pelo mundo, promovendo uma reflexão de como ‘retraçar’. (Ex.: tuites sobre Wall Street)
Ela também mostrou uma foto de um varal de propostas em escala caótica, de algum movimento político, que foi criticado pela mídia, mas que gerou um twitômetro onde os interessados poderiam votar nas propostas que se identificavam. Ganhou um alcance global. Seu grande questionamento é se tudo isto está sendo usado politicamente, onde se insere a Academia na produção de ‘cartografias’?! Estes rastros também poderiam ser utilizados nas pesquisas acadêmicas para conhecer fenômenos sociais e etc.
Fernanda mostrou outro exemplo de infográfico sobre posições da população da França em relação a uma lei sobre publicações na Internet. E diz que estes ‘mapas’ gerados por rastros podem reverberar, alterar, transformar e/ou mobilizar comportamentos sociais.

“Noções-chave para entender as redes em Latour”
Lucia Santaella

Santaella começa dizendo que todos os participantes da mesa temática estavam pesquisando sobre ator-rede, mas foi por coincidência que se reuniram para o evento. Acredita que ocorreu um ‘movimento coletivo’ de pesquisa e que o ‘rastro’ de origem desses estudos teria iniciado com Theophilos Rifiotis.
Sua fala teve ênfase na TAR (teoria do ator-rede ou ANT – em inglês) onde diz que os significados encontrados no dicionário para estas 3 palavras não dão conta, que deve-se ‘fugir’ deles. O conceito de rede vem de Bruno Latour (extraído dos pensamentos de Diderot) e rede não significa Internet. A TAR difere-se de tudo que já foi feito em todos os contextos e trata-se de algo ‘desconcertante’ ao não se aplicar à nada.
Ela contou uma história do livro de Latour, sobre um aluno que perguntava ao professor como poderia utilizar a TAR em seu estudo de caso. O professor respondia que a TAR é útil quando não se quer aplicar à nada, pois serve de argumento negativo. É uma teoria versa em como estudar e não estudar as coisas e como permitir espaços de criação.
Santaella diz que as teorias convencioanis não servem para espaços que mudam constantemente e radicalmente, por isso a TAR se fez necessária, onde ela se aplica aos discursos que se movem e são movidos. E só ela poderia dar conta das múltiplas entidades ou actuantes em seus morfismos específicos de humanos e não-humanos movidos nas Redes Sociais Digitais (RSD).
A TAR nega e não serve para estudar a Internet, enquanto conceito de computadores interligados, mas referencia-se a algo heterogêneo, onde as redes não designam algo com fios físicos, como um esgoto ou linhas de telefone, mas códigos. A TAR considera um ‘habitante’ em relação ao outro em múltiplas formas de interação. A ‘rede’ enquanto engenharia não tem relação com a TAR, mas somente quando considerada interação.
Santaella diz ‘computadores pensam’ e a TAR serve para rastrear situações onde inovações proliferam e fronteiras são incertas e as margens das ‘entidades’ flutuam. Ao citar Latour, diz que ele sugere o resgate do empirismo e dá 5 conselhos:

A)     Considerar a TAR como descrição e construção de rede como atores/actuantes – vale para humano, software, etc.
B)      Descrever – prestar atenção em coisas concretas
C)      Não há origem ou princípios ou recorrência – ‘nossos objetos’ estão sempre ‘no meio’. Obs.: Não há ‘recortes’.
D)     Saber o que é – descrever é cabível à TAR
E)      Ator-rede não deve ser confundido com objeto, pois a TAR é um método negativo – não diz nada sobre o objeto – importa o que influi e não há informação, mas transformação. Obs.: A ciência rompe como treinamento convencional das ciências sociais.

Principais tópicos relevantes:

A)     Distinguir a sociologia do social da sociologia das associações.
B)      Melhor tratar os atores como actuantes, que são aqueles que agem por muitos outros. (não só humanos). “Quem fala em mim, quando eu falo?”
C)      Mediadores não são intermediários (transportadores), pois traduzem, distorcem, transformam, modificam significados. “Abrir as caixas pretas”. Podem ser um ou muitos e depende do fluxo das ações. Ex.: computador, que é um mediador transparente até que estrague e se perceba sua importância.
D)     Redes – pistas deixadas por agentes de movimento
E)      Tradução – nascimento da TAR – oposta à idéia de transporte.
Santaella também comenta da importância de nos libertarmos da noção de ‘causa-efeito’. E que não há nada mais prático do que uma boa teoria! Mas não há empiria sem o auxílio de teorias poderosas!! Com isto, diz que não se pode colocar ‘a mão na massa’ sem antes conhecer bem os ‘ingredientes’! (Não usar a TAR sem conhecê-la muito bem!!)

“’Bruno Latour mit deutscher Akzent’:  Convergências entre a Teoria Ator-Rede e as Novas Teorias de Mídia Alemães”
Erick Felinto

Erick propõe uma associação do pensamento de Latour com o de Benjamin.

Ele diz que Latour promoveu uma reforma nas ciências humanas. E criticou (juntamente com Heidelberg) ‘cruelmente’ o texto mais popular de Benjamin e um clássico nas teorias das mídias: “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, afirmando que Benjamin ‘errou’ em tudo que citou no texto.
Erick se perguntava então o porquê dessa agressividade e nos aconselhou que se deve desconfiar da popularidade e desconfiar também da desconfiança!!

Ele destaca então dois pontos:
-agência dos objetos
-tradução/mediação

E comenta sobre a ‘angústia da influência’ sobre autores que sofrem o peso de estar sempre a sombra dos grandes mestres e clássicos, tentando ser original. Ele diz que uma teoria é híbrida, nunca é pura porque é resultado de diferentes ‘atores’, motivada pro paixões.
                Ele acredita que Benjamin seja um visionário que antecipou a teoria de ator-rede antes mesmo de Latour, pois Benjamin acreditava que era preciso ‘pensar a linguagem não só das ciências humanas, mas também das coisas. (justiça, arte, ciência, etc).’ Erick cita dois textos de Benjamin para promover aproximações com Latour. O texto de sua juventude “Sobre a linguagem em geral e sobre a linguagem dos homens” e “A tarefa do tradutor”.
                Erick cita Benjamin que dizia que ‘as coisas falam’ numa linguagem no sentido de se ‘exprimir’ e por isso os homens as nomeiam e se relacionam com ‘elas’. Isso nos faz repensar sobre os meios, mídias, mediações e tradução.
                Erick cita o autor Gumbrecht, que aconselha as pessoas a pararem de interpretar as obras. O autor sugere que se busque entender o impacto material das coisas sobre nós. O que é esse efeito, impacto, essa ambiência. “Não interpretar a obra, mas que efeito essa obra surte no seu corpo!” Erick usa o exemplo do filme de terror, onde o espectador sabe o que vai acontecer, porque a história sempre se repete, mas a sensação de ambiência com a oba é sempre diferente. O efeito é mais importante que a história.
                Neste sentido, Erick aproxima Gumbrecht com o pensamento de Benjamin e diz que o mundo é como algo formado por coisas, onde tudo pode ser traduzido em algo (Latour). As traduções são o motor do mundo e estas traduções são redes onde há comunicabilidade – tudo que a língua conta tem potencial virtual.
                Erick diz que Latour defende os actantes – não-humanos, porque as ciências sociais não consideraram as coisas como objetos?! Porque não se procurou sentido para as coisas?! Ele cita o mesmo exemplo de Santaella, do computador que quebra, que só emerge como um ser importante quando deixa de funcionar!
                Foi na modernidade que se separou cultura de natureza e se elaborou um projeto de separação de domínio humano de não-humano, excluindo as crenças primitivas e Latour sugere esse resgate, pois nessa época as coisas tinham vida. Natureza é igual a cultura!
                Erick traz o texto “Preocupações de um pai de família” de Benjamin sobre o Odradek, um suposto novelo de lã ou objeto não identificado que está em todos os lares e representa algo entre o não-vivo e vivo, para contrapor com a dicotomia natureza-cultura; humano-não-humano. O personagem do pai diz que o Odradek é inofensivo, mas continuará existindo mesmo quando ele se for. Erick então relaciona tudo isso a Freud e a sensação de estranheza que se não se sabe quando alguns seres são vivos ou mortos, com o exemplo do paciente de Freud que era apaixonado por uma boneca. A sensação de incerteza constante.
                Erick diz que Latour é um filósofo do híbrido e cita “A tarefa do tradutor” para dizer que nenhuma tradução ou obra de arte é feita para aquele que não conhece o original. Não existe obra traduzida literal, mas uma recriação que pode buscar a ambiência, a mesma sensação que a original provoca. Traduzir é uma perda e renúncia, uma tarefa de ambigüidade!

“Redes, Agências e Fluxos”
Theophilos Rifiotis

Theophilos inicia sua fala com a noção de técnica, no sentido de que nas pesquisas na ontologia são contra a separação de técnica (análise) e social, porém só se percebe nessas pesquisas estudos sobre humanos em relação a outros humanos. Latour seria aquele que pensaria uma outra forma, e não com uma teoria (TAR), mas com um método. Ele cita o perspectivismo e que é preciso nos libertamos das metáforas da modernidade, pois estamos aprisionados em suas estéticas, segundo Weber.
Rede seria um processo, um fluxo, algo híbrido, traçado pela tradução/descrição, que não está dado e está por vir! É uma purificação da separação entre natureza e cultura. Redes são representações, processos incessantemente produzidos. Rede como produção, pós-social e uma agência distribuída entre actantes.
Latour seria aquele que estaria propondo um projeto para ‘refazer’ a sociologia e superar as relações de separação. Ele ressalta a comunicação mediada por computador, considerando que mediador é aquele que transforma e intermediário aquele que transporta, como já disse Santaella.
Theophilos diz que é preciso repensar a idéia de meio. E que “ação é um evento, não um ato!” Utilizar a TAR é conhecer os riscos de não se chegar a lugar algum. De considerar relatórios como textos e escritas que precisam ser inventadas para as redes que estão por vir. Os grandes desafios seriam: descrever; considerar a violência das interpretações (repertório pessoal que se impõe sobre as coisas para explicá-las); infernidade das explicações e não ter que diversar (bolar/descrever).

No debate em grupo, alguns comentários e questões  foram levantadas como:
-O que se tem de novo na teoria ator-rede?!
-Devemos considerar o mundo da técnica e da sociedade.
-Trollar também é pesquisar.
-Benjamin e McLuhan ‘descrevem’ experiências ao redor.
-Para Latour descrever está dentro do fluxo – não há um sujeito que descreve um objeto. Não há separação e isso remodela preceitos do que se chama INVESTIGAÇÃO.
-Você está dentro do fluxo!

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