quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A elite intelectual

por Alessandra Collaço da Silva

            Se engana aquele que pensa em luta de classes apenas em contextos econômicos e sociais, há também uma outra batalha, menor, mas tão intensa quanto, no contexto acadêmico. Nietzsche (2000) fala em seus escritos que entre a natureza humana é natural o surgimento de uma ‘aristocracia intelectual’, que entendo aqui, como uma pequena parcela da população que se interessa em procurar respostas para suas inquietações no âmbito da ciência e pesquisa. Não que ele entendesse porque essa divisão acontece, mas apenas que acontece!

            Será que essa divisão de classes, já percebida no aspecto social e econômico, no contexto intelectual, também não é causada justamente pelo mesmo acesso desigual ao conhecimento e a informação em sociedades capitalistas (ou não), naturalmente condicionando determinadas camadas sociais (populares) ao alienamento, promovendo uma seleção ‘natural’ no intelecto, apenas por desnivelamento na formação e educação?!

            Saviani (2009) já afirmou que historicamente teorias na área da educação, constataram que muitos dos métodos pedagógicos adotados pela sociedade, acabaram por apenas reforçar a desigualdade social, já existente, por serem determinadas pelo interesse de classes dominantes sobre as dominadas. Afinal, porque o Estado (ou a elite) iria querer oferecer a mesma educação para todas as classes, se tendo consciência do controle e imposições que sofrem, as classes dominadas se rebelariam contra o sistema?!

            Neste sentido, o que falo aqui não é novidade, afinal este é o discurso que escutamos no programa de pós-graduação em educação da UFSC e em muitos outros, onde nos engajamos em lutar por melhorias na educação, espaço onde atuamos (ou não) e fundamental para uma transformação social significativa. Porém, ao ingressar na pós-graduação, percebi que os mesmos que discursam, são também os que sustentam este abismo, em posturas acadêmicas competitivas e vangloriadas.

            Para muitos, estar num mestrado ou doutorado é um grande privilégio, e um nível intelectual é naturalmente exigido, mas por quê?! Porque é um privilégio?! Será que poucos chegam lá apenas por merecimento?! Quantas pessoas têm projetos fantásticos e uma vontade gigantesca de contribuir para transformação da sociedade, partindo do âmbito acadêmico, mas por um ou outro motivo burocrático, acabam sendo excluídos de processos seletivos em programas de diversas universidades?! Falta de orientador, projetos descartados, pouca verba, pouca vaga, nota baixa em alguma prova. Por que é necessário tanto nivelamento?! Quem faz parte de uma pós-graduação ou chega a ser professor no ambiente acadêmico é realmente o mais competente para tal?!

            Quantas aulas improdutivas e professores despreparados em cursos de graduação e pós, enfrentamos ao longo da vida?! Quantos profissionais e educadores saem despreparados das universidades, e ingressam (ou não) na área profissional sem êxito, infelizes, descartados, desvalorizados, dando continuidade a um abismo social, já existente e cada vez maior?! Numa filosofia capitalista, onde só o julgado ‘melhor’ atinge o sucesso, realmente não há espaço para todos?! 

            O que observamos não é um sistema coletivo de trabalho, sustentada por todas as camadas sociais, sem distinção de importância, mas sim uma distinção de ‘status’ social, onde aqueles que atingem formação superior têm mais valor que os que apenas oferecem sua ‘força de trabalho’. Porque o conhecimento tem realmente mais valor que a força de trabalho, se para manter este sistema funcionando, todas as funções, profissões e ações são necessárias para mantê-lo?! 

            Porque alguém que atinge uma pós-graduação deveria ser considerado privilegiado e supervalorizado por isso?! Não deveria! Estar lá é fruto de uma capacidade e vontade despertada de uma educação que não é igual para todos. É talvez um privilégio triste e parece que no ambiente acadêmico, eu deveria me sentir vangloriada e deveria vangloriar os que lá estão e lá ajudam a ‘transformar’ a sociedade, mas não é como me sinto. Uma pós-graduação é para mim nada mais que uma continuidade dos estudos da graduação. Uma forma de contribuir de alguma forma para a pesquisa, a partir da minha experiência pessoal, no contexto da educação, que é meu caso, mas muitas vezes, sinto que sou cobrada e pressionada a apresentar um nível intelectual, que não sei se tenho e se deveria ter. Deveria ter?! O que ofereço não é suficiente?! 

            Sou obrigada a ler diversos autores para fundamentar idéias e pensamentos que talvez já tenha, a partir de outras construções e experiências. Sou obrigada a concordar com o que já foi dito, só porque o que tenho a dizer ainda não pode se comprovar, não tem valor. Sou obrigada a cumprir prazos e metas, para enriquecer meu currículo e então poder fazer um uso prático da minha pós-formação, ou todo esse investimento só terá valor para meu crescimento pessoal e nada mais. Sem um diploma, um título e um currículo recheado, não represento nada e nada posso transformar. É isso que ouço, ainda que me deixe inquieta.

            Se não supervalorizo aqueles que já têm uma estrada percorrida, sou ousada e arrogante, e novata, nada tenho a dizer ou ensinar que possa ter reconhecimento. Hannah Arendt (2009) diz que é natural que as velhas gerações confrontem as novas, ainda que por “mais revolucionário que possa ser em suas ações, é sempre, do ponto de vista da geração seguinte, obsoleto e rente á destruição.” Mas para dar continuidade ao mundo e humanidade, é necessário permitir que as novas gerações tenham “a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum.” Se sou obrigada a fazer estas leituras, para articular com outras teorias, porque na prática não enxergo estas atitudes?! 

            Leio sobre métodos pedagógicos que incentivam a valorização da experiência e interesse do aluno e educando, mas enquanto aluna e educanda numa pós-graduação, devo apresentar uma conduta impecável, de humildade e submissão, e minha experiência ou interesse não são suficientes para receber motivação. Sinto-me sempre cobrada e pressionada, muitas vezes, sentindo-me desvalorizada e incapaz, e muitas vezes me sentindo como uma máquina, que não deve sentir, sofrer, chorar, desequilibrar-se, fugir, enganar-se, ter problemas ou realizações pessoais, como se fazer pós fosse uma grande dádiva e só com isto, deveria me sentir feliz e satisfeita, desconsiderando o grande fardo que é continuar estudando, numa sociedade capitalista e machista, que valoriza a intensa produção, e se improdutiva, não sirvo nem como força de trabalho ou força intelectual. Não há espaço para instabilidades emocionais, apenas para alguém que deve a todo custo fazer valer sua vaga tão privilegiada, sem questionar-se por isso e sem lutar com outras armas. 

            Na elite intelectual, muitos abrem mãos de suas vidas pessoais como um grande favor para humanidade, e cobram de todos os outros que se arriscam pelo mesmo caminho, sem entender que o fundamental para a transformação social é a motivação pessoal. É preciso ter paixão e amor com o que se faz, ou esse fazer se torna apenas um discurso, uma teoria, ‘palavras no vento’, que não mudam nada e nem ninguém, por que sem o pessoal na vida acadêmica, não há lugar para o sentimento, ingrediente fundamental para qualquer transformação que se queira fazer. 

            Quantas paixões foram frustradas por barreiras burocráticas e por descrenças daqueles que há muito não sonham mais e não lembram mais das suas inexperiências e falhas?! Quantas paixões ficaram guardadas nas estantes e nas rodas de conversa, porque foram desvalorizadas demais para seguirem em frente?! E muitas vezes o que segue no ambiente acadêmico não é mais uma paixão, mas ambição, seja ela profissional, financeira, mas sem comprometimento de transformação social. 

            O que vivemos no ambiente acadêmico é uma ‘máfia de currículos’ e posições sociais. Quanto mais publicações e participações em bancas e eventos, mais competente se é! Será?! Critérios estabelecidos justamente por aqueles que tanto falam em qualidade e não em quantidade! Justamente por aqueles que pregam a necessidade de mudança, mas continuam cobrando e pressionando da forma mais conservadora possível. 

            Viva a contradição humana! Mas cabe a pergunta, para quê e para quem é uma pós-graduação?! Porque eu deveria vangloriá-la, se ela é apenas parte de uma longa caminhada, sem a qual não conheço o destino, e onde só posso contribuir com o que ‘tenho’?! E porque o que ‘tenho’ é tão pouco?! Porque preciso ser muito para ser alguém?! Não posso encará-la como um projeto pessoal, muitas vezes, de auto-conhecimento e amadurecimento?! Eu deveria estar pronta para esta jornada? Alguém está?!

            Só porque alguém tem inúmeras publicações, leu muito mais do que eu, cumpriu todos os prazos, está mais preparado?! E será muito mais bem sucedido?! Será que eu, na minha ingênua idéia de contribuir como posso, não tenho nada a oferecer?! Meu pouco não é suficiente?! As ‘portas da elite intelectual’ devem se fechar porque não me enquadro em todas as regras?! Estas portas não deveriam se abrir e acolher a todos que nela batem, para justamente esfumaçar os limites que as divisões de classes impõem?! 

            Pergunto-me diariamente porque quis continuar estudando. Por que continuar estudando numa sociedade tão preocupada com resultados?! Por que sacrificar minha vida pessoal por mero prestígio profissional?! Por que insistir numa batalha, que insiste em me diminuir?! Pra fazer valer a pena pelos que não podem? Pra ter algo a contribuir neste mundo tão cego e interessado em capital?!  Pra conciliar paixão com necessidade de renda?! Não sei...são respostas que ainda não tenho...são perguntas que me rondam e inquietam...a única coisa que sei é que quando se estuda e nesse estudo se aprende algo, vicia. E quando se para, a mente esvazia, ‘emburrece’. Existe uma necessidade de entrega, uma vontade de conhecer enorme, e com ela, cresce uma vontade de compartilhar este conhecimento com todos, mas nem sempre ‘todos’ estão interessados em ouvir. Nem sempre estão preparados ou dispostos. E assim, só resta silêncio e sinceramente, não foi com silêncio que a humanidade mudou nada! 

            Como diria Nietzsche (2003), para transformar é preciso ‘marteladas’! É preciso confronto direto, é preciso questionar as regras e se possível, quebrá-las, sem num primeiro momento ser reconhecido por isso, pois ‘nós plantamos para que gerações futuras possam colher!” e não acredito que apenas uma pessoa possa fazer isso, são várias vozes unidas que podem! Então se para mudar essa elite intelectual eu precise confrontá-la, aqui estou eu confrontando, criticando, lutando...tentando ser o que sou, pois "se sou um, é melhor estar em desacordo com o mundo do que estar em desacordo comigo mesmo!" (Sócrates apud Arendt, 2009)

Outras Vozes unidas a minha!

ARENDT, Hannah. A crise na educação in Entre o passado e futuro. Tradução Mauro W. Barbosa. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2009.

NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano. Trad. de Paulo César de Souza. São
Paulo: Companhia das Letras, 2000.

__________ Escritos sobre educação. Trad. Noéli Correia de Melo Sobrinho. RJ : Ed. PUC-Rio, 2003.

__________ Assim Falava Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Petrópolis – RJ: Vozes, 2008.

__________ O espírito livre. In. Além do Bem e do Mal. Tradução: Paulo César de Souza.
Companhia das Letras. São Paulo, 2005.

Revista Cult. Dossiê “Nietzsche – humano demasiado humano” São Paulo: Bregantini Ano 13. Edição 143 pg. 48-64

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia: teoria da curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 41. ed. revista. Campinas, SP: Autores Associados, 2009.

Inspiração em Steve Jobs...

"Your time is limited, so don't waste it living someone else's life. Don't be trapped by dogma — which is living with the results of other people's thinking. Don't let the noise of others' opinions drown out your own inner voice. And most important, have the courage to follow your heart and intuition. They somehow already know what you truly want to become. Everything else is secondary." Steve Jobs
Tradução: "Seu tempo é limitado, portanto não o desperdice vivendo a vida de alguém. Não caia na armadilha do dogma - que é viver com os resultados do pensamento de outras pessoas. Não deixe que a opinião dos outros cale a sua própria voz interior. E o mais importante, tenha coragem para seguir seu coração e intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Tudo o resto é secundário!"
Por isso, força na peruca!! =)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

"Felicidade" de Marcelo Jeneci



Felicidade 
Marcelo Jeneci

Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz.
Sem tirar o ar, sem se mexer, sem desejar como antes sempre quis.
Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar.
Lembrará os dias que você deixou passar sem ver a luz.
Se chorar, chorar é vão porque os dias vão pra nunca mais.

Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e dançar.
Dançar na chuva quando a chuva vem.

Tem vez que as coisas pesam mais do que a gente acha que pode aguentar.
Nessa hora fique firme, pois tudo isso logo vai passar.
Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar.

Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e dançar.
/Dançar na chuva quando a chuva vem./ (4X)

As 5 coisas boas e ruins do mestrado...


'Que atire a primeira pedra', quem nunca pensou em desistir do grande desafio de fazer mestrado no meio do caminho....

Quem nunca pensou "Onde foi que me meti?!" ou muitas vezes se sentiu e se sente impotente e incapaz....diante de leituras difíceis, relacionamentos conturbados, prazos apertados, cobranças interiores e exteriores, competição entre os colegas, problemas burocráticos, necessidades financeiras incompatíveis com bolsa ou renda, escolhas difíceis, tudo isso sempre conciliado com 'administração' da casa, família, horas de lazer, amigos, compromissos pessoais, tpms, depressões, etc e tal...

Em dias cinzas, os bons motivos parecem distantes e é preciso muito esforço para lembrar porque resolvemos abrir mão de tantas coisas, por um sonho, um desejo, um objetivo...profissional, financeiro, social...que exige um desgaste emocional gigantesco...

Lá no fundo, cada um sabe as escolhas que fez e o tamanho de seu próprio sofrimento....e essa dor jamais deve ser comparada...cada um sabe de si e tem seus próprios limites...

Hoje é um dia cinza...onde a inspiração ficou suspensa, por conta de algum estresse ou distração...nem sempre é fácil ter a disciplina necessária para administrar as responsabilidades de um mestrado com o lado emocional aflorado...nem sempre é fácil acordar diariamente disposto a se debruçar em milhares de livros e suas teorias...com energia suficiente para digerir, processar e escrever sobre todas elas...

Sempre me dizem que é um privilégio, uma honra estar no mestrado...e é...mas às vezes parece um golpe de sorte, um acidente...um engano, que a qualquer momento irão descobrir..."Ei! O que você está fazendo aqui?!"...

Ouço tanto da importância da humildade na pesquisa....como se a humildade fosse algo possível de ser adquirida por vontade própria e com total consciência...

A pessoa simplesmente é humilde...não pode tentar ser...já vi muita arrogância, maquiada de falsa humildade...então prefiro nem usar essa maquiagem...prefiro mostrar o que sou...como acho que todos deveriam fazer...

"Se sou um, é melhor estar em desacordo com o mundo do que estar em desacordo comigo mesmo!" Sócrates
  
É realmente um grande desafio fazer mestrado, mas é ainda maior quando você faz o mestrado com a mesma paixão e entrega, que faz qualquer outra coisa...aí o 'deixa rolar' e 'relaxa e goza' nunca acontece...e fica impossível não pensar em 'tudo ou nada'...

Ou você faz bem feito ou não faz...

Ainda tenho tentado a primeira opção....

5 Coisas boas....

1. Aprender coisas novas...
2. Conhecer pessoas interessantes com saberes interessantes...
3. Sentir-se produtiva e capaz...
4. Contribuir para pesquisa em algum aspecto...
5. Compartilhar o conhecimento....

5 Coisas ruins...

1. Lidar com a culpa diariamente...parece que toda hora vc deve estar estudando...
2. Angústia e frustração com prazos e cobranças...
3. Sensação de incapacidade e impotência com o saber....
4. Incapacidade financeira...
5. Sacríficios profissionais...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"Entre o passado e o futuro" de Hannah Arendt


Mais uma síntese interessante pra compartilhar!!

Capítulo específico:  A crise na educação (Capítulo 5)

"Os homens normais não sabem que tudo é possível!" David Rosset p. 10

O livro inicia com um texto de Celso Lafer (1972), dizendo que Hannah quer ‘examinar a lacuna entre o passado e o futuro – a crise profunda do mundo contemporâneo – que se traduz no campo intelectual, pelo esfacelamento da tradição, que resultou numa perda de sabedoria’. P. 10

“O fenômeno totalitário revelou que não existem limites às deformações da natureza humana e que a organização burocrática de massas, baseada no terror e na ideologia, criou novas formas de governo e dominação, cuja perversidade nem sequer tem grandeza!” ... “Os padrões morais e as categorias políticas que compunham a continuidade história da tradição ocidental se tornaram inadequados.” . 10

Marx, Kierkegaard e Nietzsche anteciparam este esfacelamento, sendo Hegel o ‘primeiro a se afastar de todos os sistemas de autoridade, pois ao vislumbrar o desdobrar completo da História Mundial numa unidade dialética, minou a autoridade de todas as tradições, sustentando a sua posição apenas no fio da própria continuidade histórica’.

Vivemos numa era contemporânea de ‘dúvida da fé’, ‘perda do senso comum’ e ‘falta de confiança’, típica da ciência contemporânea.

“A formalização crescente esvaziou de sentido a nossa percepção concreta e, ademais, não só converteu, através da mediação da técnica, o nosso meio ambiente em objetos criados pelo homem, como também conseguiu modificar, por meio da ação humana, o desencadeamento dos próprios processos da natureza, como o evidencia a fissão do átomo.” P. 12

“Nietzsche também se opôs ao conceito tradicional do homem como ser racional, insistindo na produtividade da vida e na vontade de poder do homem.” P. 12

“A diversão, que é o que o homem consome nas horas livres, entre o trabalho e o descanso, está ligada ao processo biológico vital”. E por isso ‘a indústria de diversão está confrontada com apetites imensos e os processos vitais da sociedade de massas poderão vir e consumir todos os objetos culturais, deglutindo-os e destruindo-os. A sociedade de massas, que se orientou para uma atitude de consumo, dificilmente modificará esta tendência devoradora.” P. 13

“A natureza é feita por Deus, e só Ele pode compreender os seus processos. A História é feita pelo homem, que pode, consequentemente, entender os processos que desencadeou.” “A História é o sistema das experiências humanas.” P. 14

Neste sentido, a História ‘deixou de ser uma compreensão do passado para ser uma projeção do futuro’, passando a ser um modelo ‘cuja contemplação fornece regras para a ação’. ‘A finalidade da História é a atualização da idéia de liberdade’! p. 15

"Se sou um, é melhor estar em desacordo com o mundo do que estar em desacordo comigo mesmo!" Sócrates p. 17

“As novas técnicas de comunicação, somadas à incorporação das massas nos sistemas políticos, levaram a novas modalidades de manipulação de opinião.” Sendo que, a ‘manipulação de opinião é o reescrever da História não em termos de interpretação, mas de deliberada exclusão dos fatos.” P. 19 e 20 -  Celso Lafer 1972

A crise na educação

“Uma crise nos obriga a voltar às questões mesmas e exige respostas novas ou velhas, mas de qualquer modo julgamentos diretos.” P. 223

“Na América, indiscutivelmente a educação desempenha um papel diferente e incomparavelmente mais importante politicamente do que em outros países.” P. 223

“A educação não pode desempenhar papel nenhum na política, pois na política lidamos com aqueles que já estão educados.” P. 225

“Quem desejar seriamente criar uma nova ordem política mediante a educação, isto é, nem através de força e coação, nem através da persuasão, se verá obrigado à pavorosa conclusão platônica: o banimento de todas as pessoas mais velhas do Estado a ser fundado.” P. 225

“Pertence à própria natureza da condição humana o fato de que cada geração se transforma em um mundo antigo, de tal modo que preparar uma geração para um novo mundo só pode significar o desejo de arrancar das mãos dos recém-chegados sua própria oportunidade face ao novo.” P. 226

“O desaparecimento do senso comum nos dias atuais é o sinal mais seguro da crise atual.” P. 227

“Por que os níveis escolares da escola americana média acham-se tão atrasados em relação aos padrões médios na totalidade dos países da Europa?”p. 227

“O direito à educação é um dos inalienáveis direitos cívicos.” P. 228

“Os mais dotados são também os melhores, o que não é de modo algum uma certeza. Na América, uma divisão quase física dessa espécie entre crianças muito dotadas e pouco dotadas seria considerada intolerável. A meritocracia contradiz, tanto quanto qualquer outra oligarquia, o princípio da igualdade que rege uma democracia igualitária.” “O que torna a crise educacional na América tão particularmente aguda é o temperamento político do país, que espontaneamente peleja para igualar ou apagar tanto quanto possível as diferenças entre jovens e velhos, entre dotados e pouco dotados, entre crianças e adultos e, particularmente, entre alunos e professores. É óbvio que um nivelamento desse tipo só pode ser efetivamente consumado às custas da autoridade do mestre ou às expensas daquele que é mais dotado, dentre os estudantes.” P. 229

“A autoridade de um grupo, mesmo que este seja um grupo de crianças, é sempre consideravelmente mais forte e tirânica do que a mais severa autoridade de um indivíduo isolado.” “Poucas pessoas adultas são capazes de suportar uma situação dessas, mesmo quando ela não é sustentada por meios de compulsão externos; as crianças são pura e simplesmente incapazes de fazê-lo.” “A reação das crianças a essa pressão tende a ser o conformismo ou a deliquência juvenil, e frequentemente é uma mistura de ambos.” P. 230

Hannah diz que a Pedagogia Moderna tornou-se uma ciência de Ensino Geral, a ‘ponto de se emancipar inteiramente da matéria efetiva a ser ensinada’, sendo o professor, um alguém que ‘pode simplesmente ensinar qualquer coisa; sua formação é no ensino, e não no domínio de qualquer assunto particular.’ “Como o professor não precisa conhecer sua própria matéria, não raro acontece encontrar-se apenas um passo à frente de sua classe em conhecimento.” P. 231

A autora diz que a Educação Moderna passou a se preocupar com o aprendizado através do fazer.

“A educação está entre as atividades mais elementares humanas e necessárias da sociedade humana, que jamais permanece tal qual é, porém se renova continuamente através do nascimento, da vida de novos seres humanos.” “Um estado de vir a ser”, onde a “criança, objeto da educação, possui para o educador um duplo aspecto: é nova em um mundo que lhe é estranho e se encontra em processo de formação; é um novo ser humano e é um ser humano em formação.” P. 234 e 235

“A criança requer cuidado e proteção especiais para que nada de destrutivo lhe aconteça de parte do mundo. Porém o mundo necessita de proteção, para que não seja derrubado e destruído pelo assédio do novo que irrompe sobre ele a cada nova geração.” “Por precisar ser protegida do mundo, o lugar tradicional da criança é a família.” P. 235

Hannah cometa que é natural da criança querer dirigir-se à luz, ainda que precise da segurança da escuridão para poder crescer. Entendo aqui que a criança precisa ser privada de todo o ‘saber’, para poder crescer em segurança, e quando adulta, ter acesso, mas com capacidade plena de discernimento. Estaria aí o grande erro, já reconhecido pela humanidade, em relação à educação passada, de ter considerado a criança, um pequeno adulto. Ela não é!

Hannah complementa com o caso de crianças, filhos de celebridades, que acabam se tornando problemáticas, devida a super exposição, inevitável no mundo da fama.

“Normalmente a criança é introduzida ao mundo pela primeira vez através da escola. No entanto, a escola não é de modo algum o mundo e não deve se fingir sê-lo; ela é, em vez disso, a instituição que interpomos entre o domínio privado do lar e o mundo com o fito de fazer com que seja possível a transição, de alguma forma, da família para o mundo.” “Na medida em que a criança não tem familiaridade com o mundo, deve-se introduzi-la aos poucos a ele.” P. 238

(caso do meu sobrinho que ficou mais sociável depois de freqüentar a escola)

“Qualquer pessoa que se recuse a assumir a responsabilidade coletiva pelo mundo não deveria ter crianças, e é preciso proibi-la de tomar parte em sua educação.” P. 239

“A qualificação, por mais que seja, não engendra por si só autoridade. A qualificação do professor consiste em conhecer o mundo e ser capas de instruir os outros acerca deste, porém sua autoridade se assenta na responsabilidade que ele assume por este mundo.” Para criança é como se o professor representasse ‘todos os habitantes adultos’, nas fases iniciais de sua vida. P. 239

A grande crise na educação estaria ligado ao fato de que ‘toda e qualquer responsabilidade pelo mundo está sendo rejeitada, seja a responsabilidade de dar ordens, seja a de obedecê-las.” “Os adultos se recusam a assumir responsabilidade pelo mundo ao qual trouxeram as crianças.” P. 240

“Nesse mundo, mesmo nós não estamos muito a salvo em casa; como se movimentar nele, o que saber, quais habilidades dominar, tudo isso também são mistérios para nós.” E então parece que os adultos dizem para as crianças “Vocês devem tentar entender isso do jeito que puderem, em todo caso vocês não tem direito de exigir satisfações. Somos inocentes, lavamos nossas mãos por vocês.”p. 242

“Tal atitude conservadora, em política – aceitando o mundo como ele é, procurando somente preservar o status quo (opção mais fácil) -, não pode senão levar à destruição, visto que o mundo, tanto no todo como em parte, é irrevogavelmente fadado à ruína pelo tempo, a menos que existam seres humanos determinados a intervir, a alterar, a criar aquilo que é novo.” P. 242

“Basicamente, estamos sempre educando para um mundo que ou já está fora dos eixos ou para aí caminha, pois é essa a situação humana básica, em que o mundo é criado por mãos mortais e serve de lar aos mortais durante tempo limitado. O mundo, visto que feito por mortais, se desgasta, e dado que seus habitantes mudam continuamente, corre o risco de torna-se mortal como eles. Para preservar o mundo contra a mortalidade de seus criadores e habitantes, ele de ser, continuamente, posto em ordem.” “Nossa esperança depende sempre do novo que cada geração aporta.” P. 243

“Exatamente em benefício daquilo que é novo e revolucionário em cada criança é que a educação precisa ser conservadora; ela deve preservar essa novidade e introduzi-la como algo novo em um mundo velho, que, por mais revolucionário que possa ser em suas ações, é sempre, do ponto de vista da geração seguinte, obsoleto e rente á destruição.” P. 243

“Envelhecer é o gradativo retirar-se do mundo das aparências”. Goethe

“A atitude romana teria sido que justamente ao envelhecer e ao desaparecer gradativamente da comunidade dos mortais o homem atinge sua forma mais característica de existência, ainda que em relação ao mundo das aparências, esteja em vias de desaparecer; isto porque somente agora ele se pode acercar da existência na qual será uma autoridade para todos.” p. 244

Não que essa atitude seja necessária hoje, pois “a função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver.” “A aprendizagem volta-se inevitavelmente para o passado, não importa o quanto a vida seja transcorrida no presente.” “Não se pode nem educar adultos, nem tratar crianças como se elas fossem maduras.” P. 246

Para Hannah, é impossível determinar com precisão o limite entre a infância e a condição adulta, pois ela muda frequentemente, ‘com respeito à idade, de país pra país, de uma civilização a outra e também de indivíduo para indivíduo. ‘A educação contudo, precisa ter um final previsível’.

“Não se pode educar sem ao mesmo tempo ensinar, uma educação sem aprendizagem é vazia e portanto degenera, com muita facilidade, em retórica moral e emocional. É muito fácil, porém ensinar sem educar, e pode-se aprender durante o dia todo sem por isso ser educado.” P. 247

“A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e jovens. A educação, é também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum.” P. 247

"Escola e democracia" de Dermeval Saviani


Este pequeno livro é uma ótima fonte de conhecimento para entender a diferença entre Escola Tradicional e Escola Nova, com visão crítica do autor. 

Para não comprometer a minha escrita da dissertação, coloquei só alguns trechos finais, que resumem a proposta de educação de Saviani.

Escola e Democracia
de Dermeval Saviani

Para o autor, alguns passos seriam necessários para uma escola ideal. Um dos primeiros seria a possibilidade da troca de saberes, de professores e alunos, em seus diferentes níveis de compreensão, tanto de experiência, como de conhecimento. E outra característica importante, seria a preocupação em atuar em questões no âmbito social, verificando conhecimentos que precisam ser alcançados, não apenas apresentando problemas, mas problematizando questões e atuando nas necessidades que elas geram. Outro fator importante seria o de articular o conhecimento apreendido ao cotidiano do aluno, permitindo a reflexão e consciência de si e do mundo, tornando-os ‘elementos ativos de transformação social’. E por fim, permitir aos alunos, a capacidade de ‘expressarem uma compreensão da prática em termos tão elaborados quanto era possível ao professor’.

“A educação, portanto, não transforma de modo direto e imediato, e sim de modo indireto e mediato, isto é, agindo sobre os sujeitos da prática.” (Sánchez Vazquez, 1968 apud Saviani).

Saviani propõe uma educação como mediadora, onde relaciona prática pedagógica com a prática social, no intuito de atingir a democratização do saber.

“Não se trata de optar entre relações autoritárias ou democráticas no interior da sala de aula, mas de articular o trabalho desenvolvido nas escolas com o processo de democratização da sociedade.”

“Numa sociedade dividida em classes, a classe dominante não tem interesse na manifestação da verdade, já que isso colocaria em evidência a dominação que exerce sobre as outras classes. Já a classe dominada tem todo o interesse em que a verdade se manifeste porque isso só viria a patentear a exploração a que é submetida, instando-a a engajar-se na luta de libertação.” “A importância política da educação reside na sua função de socialização do conhecimento. É realizando-se na especificidade de que lhe é própria que a educação cumpre sua função política.”

"O que é mídia-educação?" de Maria Luiza Belloni


É um livro pequeno e fininho, mas cheio de passagens super importantes, que relacionam mídia e educação. É uma pequena bíblia sobre o assunto e compartilho aqui alguns trechos que destaquei na minha síntese de 10 páginas, como já fiz com outros livros por aqui.

A ideia é ajudar pessoas interessadas no assunto, que não conhecem o livro e com uma síntese podem se familiarizar melhor, antes de se debruçarem numa leitura mais cuidadosa.

O que é mídia-educação?
Maria Luiza Belloni

Prefácio – Maio de 2009

“Não observamos, no Brasil, avanços significativos no que diz respeito a mídia-educação e os principais obstáculos a seu desenvolvimento continuam ativos. O que não significa que não exista uma multiplicidade de experiências singulares inovadoras e importantes, mas elas são fruto do trabalho incansável de professores, jornalistas, comunicadores, religiosos, todos eles, mídia-educadores militantes e têm, por sua própria natureza, abrangência restrita quando não um estatuto marginal”. Neste sentido, 'a mídia-educação ainda continua ignorada e ausente.'

“Da ‘aldeia global’ passamos à ‘sociedade da informação ou do conhecimento’ e à ‘sociedade em rede’, com suas utopias próprias: inteligência coletiva, cibercultura, liberdade de expressão, democratização da cultura e do conhecimento, etc.” ... “As indústrias culturais (rádio, cinema, televisão, impressos) viveram uma verdadeira ‘revolução tecnológica’ decorrente do progresso técnico nas telecomunicações e na informática, cujo resultado é a digitalização de praticamente todos os dispositivos técnicos no trabalho ou em casa, particularmente os de comunicação.”.... “Com a difusão acelerada das TIC e da Internet, os usuários têm acesso a mídias sofisticadas que permitem interatividade com programas, interação com outros internautas e acesso à informação e entretenimento quase sem limites.”

“O papel da mídia-educação, neste contexto, torna-se ainda mais crucial, porém sua realização se revela mais  complexa ante as ilusões libertárias e igualitárias contidas nas promessas da ‘rede’. As novas tecnologias representam, evidentemente, novos desafios para a mídia-educação que deve aprender a lidar com: i) uma cultura midiática jovem, muito mais interativa e participativa; ii) fronteiras menos precisas entre uma elite produtora de mensagens e a massa de consumidores típica de massa; iii) novos modos de perceber o mundo e de aprender; iv) novas formas de fazer política e significativas possibilidades democráticas. As formas e os sentidos de que se vão revestir essas novas potencialidades ainda não realizadas dependem dos modos de relações que os jovens vão desenvolver com as mídias: apropriações mais democráticas, críticas e criativas dependerão, em grande parte, da capacidade de a sociedade oferecer oportunidades de mídia-educação às novas gerações.”

“A mídia-educação é hoje tão necessária ao exercício da cidadania quanto era a alfabetização no século XIX.” Ela poderia ser entendida também como uma espécie de  inclusão digital, ou seja, “à apropriação dos modos de operar estas ‘máquinas maravilhosas’, que abrem as portas do mundo encantado da rede mundial de computadores, possibilitando que o usuário se torne também produtor de mensagens. As dimensões da mídia-educação como objeto de estudo, isto é, ‘leitura crítica’ de mensagens, e ferramenta pedagógica, que diz respeito a seu uso em situações de aprendizagem, continuam fundamentais para a implementação de sua prática nos espaços escolares associativos.” 

Para isso, "será necessário que a mídia-educação penetre efetivamente nos sistemas de ensino de modo interdisciplinar e transversal, oficial e integrado ao cotidiano das práticas pedagógicas.” 

É preciso haver uma ‘profunda transformação cultural’ e “que a vontade política responda à demanda social e que a mídia-educação seja inscrita nas prioridades educacionais, o que depende da convicção e da mobilização de educadores comprometidos com a qualidade do ensino e com a cidadania.”

“É preciso também entender como as novas gerações se apropriam das técnicas de informação e comunicação que o avanço técnico vai colocando...” e “quais os modos como a instituição escolar, e especialmente os professores, estão se apropriando destes instrumentos e os integrando (ou não) ao seu cotidiano.”

Belloni acredita ‘na educação e na comunicação como instrumentos de luta para emancipação dos indivíduos e das classes, e não apenas como meras estruturas de dominação e reprodução das desigualdades sociais.’

É preciso que o estatuto da Criança e Adolescente saia do papel e ganhe realidade no Brasil, ‘assegurando que todas as crianças brasileiros tenham acesso efetivo a uma educação de qualidade com todas as tecnologias disponíveis e a uma comunicação livre e sem preconceitos.”

P. 1, 2 e 3

Capítulo 1 – A mediação escolar indispensável para a cidadania

“A criança terá direito à liberdade de expressão; este direito inclui a liberdade de procurar, receber e partilhar informação de todos os tipos, independentemente de fronteiras, seja oral, escrita ou impressa, na forma de arte ou através de qualquer outro meio de escolha da criança” (Convenção da ONU sobre direitos da criança e do adolescente, 1989)

Para isso é preciso ‘formar o cidadão competente para a vida em sociedade, o que inclui a apropriação crítica e criativa de todos os recursos técnicos à disposição desta sociedade.’

Autodidaxia: novos modos de aprender

Faz 40 anos que Mc Luhan lançou “o meio é a mensagem” e muitos tentam entender ‘o que e como se aprende por intermédio das mídias’. ‘Ao transmitir a mensagem, afirmava ele, o meio transmite também algo que lhe é mais inerente e que age sobre o conteúdo, transformando-o. Este algo a mais é o que chamamos de ‘linguagens das mídias eletrônicas’. P. 6

“Crianças que vêem televisão têm melhores aptidões para construir conceitos de relações espaços-temporais, para compreender as relações entre o todo e suas partes, e até para identificar os ângulos das ‘tomadas de imagens’. Isso significa um ‘reforço das faculdades de abstração, pois qualquer teria, é antes de mais nada, uma maneira de ver as coisas (Greenfield, 1988) Parece incontestável, hoje, que as crianças desenvolvem por impregnação capacidades cognitivas e perceptivas, como por exemplo: fazer anotações enquanto vêem um programa de vídeo; inventar uma boa pergunta para animar um chat; saber intervir num programa de TV interativa (jogo, teleconferência, etc) reconhecer um quadro famoso ou estilo de um pintor, reconhecer e identificar um trecho musical, entre muitas outras já conhecidas e banalizadas, e outras ainda inimagináveis. (Perriault, 1996 p.241) p. 6-7

“O desenvolvimento de uma maior autonomia no contato com estas mídias favorece o surgimento de outras competências tais como organizar e planejar seu tempo, suas tarefas, fazer testes, responder formulários, etc.” ... “Em contrapartida, o fascínio que estas máquinas exercem sobre crianças e adolescentes pode levar a situações de mania e/ou dependência, da medida em que as pessoas se desligam facilmente da realidade física e sócio-afetiva circundante para se ligarem em alguma dessas realidades virtuais, propiciadas por uma dessas máquinas maravilhosas.” P. 7

Questões a serem formuladas:

- Como poderá a escola contribuir para que todas as nossas crianças se tornem utilizadoras (usuárias) criativas e críticas destas novas ferramentas e não meras consumidoras compulsivas de representações novas de velhos clichês?

- Como pode a escola pública assegurar inclusão de todos na sociedade do conhecimento e não contribuir para a exclusão de futuros ‘ciberanalfabetos’?

Dupla dimensão da integração das TIC na educação: mídia-educação e comunicação educacional

Como lidar com estes desafios?

-Integração das tecnologias de modo criativo, inteligente e distanciado, no sentido de desenvolver a autonomia e a competência do estudante e do educador enquanto ‘usuários’ e criadores das TIC e não como meros ‘receptores’.

-Mediatização do processo de ensino/aprendizagem aproveitando ao máximo as potencialidades comunicacionais e pedagógicas dos recursos técnicos: criação de materiais e estratégias, metodologias, formação de educadores (professores, comunicadores, produtores, tutores), produção do conhecimento.

“A escola deve integrar as tecnologias de informação e comunicação porque elas já estão presentes e influentes em todas as esferas da vida social, cabendo à escola, especialmente a pública, atuar no sentido de compensar as terríveis desigualdades sociais e regionais que o acesso desigual a estas máquinas está gerando!” p. 10

Capítulo 2 – Da tecnologia à comunicação educacional

“A educação das mídias é condição necessária na educação para cidadania, sendo um instrumento fundamental para a democratização das oportunidades educacionais e do acesso ao saber e, portanto, de redução das desigualdades sociais.” (Belloni, 1991 e 1995) p. 12

“A noção de educação para as mídias abrange todas as maneiras de estudar, de aprender e de ensinar em todos os níveis (...) e em todas as circunstâncias, a história, a criação, a utilização e a avaliação das mídias enquanto artes plásticas e técnicas, bem como o lugar que elas ocupam na sociedade, seu impacto social, as implicações da comunicação mediatizada, a participação e a modificação do modo de percepção que elas engendram, o papel do trabalho criador e o acesso às mídias.” (UNESCO, 1984) p.12

Belloni fala das visões apocalípticas em torno das mídias. Visões de que as máquinas dominarão o mundo e punirão os homens, frequentemente retratadas em filmes e histórias.

“Vivemos numa era da informação: na qual a informação é uma nova moeda de troca, ou uma nova medida de valor, constituindo uma nova ‘ficha simbólica’ tão importante quanto o dinheiro (Giddens, 1994). A ideia da sociedade da informação faz parte também do discurso oficial das organizações internacionais, como a UNESCO por exemplo, que considera as TIC ‘como elemento essencial para compreender as sociedades contemporâneas’ (Relatório Delors, UNESCO, 1996).” P. 21

“As TIC avançaram mais rapidamente que a própria informação!” p. 21

“Para compreender o impacto dessas tecnologias nas sociedades e instituições, nos processos e relações sociais, na produção e reprodução da sociedade e de suas estruturas simbólicas, é necessário ir além das considerações técnicas – sejam elas ‘apocalípticas’ ou ‘deslumbradas’. É preciso valorizar o mundo real dos sujeitos, considerá-los como protagonistas de sua história e não como ‘receptores’ de mensagens e consumidores de produtos culturais. É preciso retomar a velha fórmula: abandonar o conceito ‘do que a televisão faz às crianças’ e substituí-lo pelo conceito ‘do que as crianças fazem com a televisão’. (Schramm, 1965, Pinto, 1998).

Belloni defende que é importante saber o que as pessoas fazem com as mídias, com os artefatos midiáticos e técnicos.

É importante ‘compreender como a instituição escolar está lidando com esse imenso desafio. Quais as novas finalidades sociais da educação formal e não formal? Qual a escola que queremos? Que competências são necessárias para formar o cidadão do 3º milênio e seus professores?’ p. 22

Tecnologias e Educação

“Finalidades ampliadas e necessidades e demandas crescentes. Estas são as macros tendências para o futuro. Os sistemas de educação terão que dar respostas a estas demandas. A educação tende a crescer em número e em complexidade.” (Carmo, 1997; Perriault, 1996b; UNESCO, 1996) p.22

“As sociedades contemporâneas já estão a exigir um novo tipo de indivíduo e de trabalhador em todos os setores sociais e econômicos: um indivíduo dotado de competências técnicas múltiplas, habilidade no trabalho em equipe, capacidade de aprender e de adaptar-se a situações novas. Para sobreviver na sociedade e integrar-se ao mercado de trabalho do século XXI, o indivíduo precisa desenvolver uma série de capacidades novas: autogestão (capacidade de organizar seu próprio trabalho), resolução de problemas, adaptabilidade e flexibilidade frente a novas tarefas, assumir responsabilidades e aprender por si próprio e constantemente, trabalhar em grupo de modo cooperativo e pouco hierarquizado (Trindade, 1992).” P.22 e 23

“Será preciso reformular radicalmente currículos e métodos de ensino, enfatizando mais a aquisição de habilidades de aprendizagem e a interdisciplinaridade (o que implica diminuir a quantidade de conhecimentos)” p.23

“Os sistemas de educação terão necessariamente que expandir suas ofertas de serviço, ampliando seus efetivos de estudantes em formação inicial e criando novas ofertas de formação continuada.” P. 23

“A integração das novas tecnologias de informação e comunicação, não apenas como meio de melhorar a eficiência dos sistemas, mas principalmente como ferramentas pedagógicas efetivamente a serviço da formação do indivíduo autônomo.” P. 24

“Campos emergentes de pesquisa e práticas como a andragogia, a mídia-educação, a educação a distância e a comunicação educacional podem vir a contribuir inestimavelmente para a transformação dos métodos de ensino e da organização do trabalho nos sistemas convencionais.” P. 24

“A educação será um processo de autoaprendizagem, centrado no sujeito aprendente, considerado como um indivíduo autônomo, capaz de gerir seu próprio processo de aprendizagem.” P. 24

“As TIC estão cada vez mais presentes na vida cotidiana e fazem parte do universo dos jovens, sendo esta a razão principal da necessidade de sua integração à educação.” (Belloni, 1999) p. 25

Mediatização: da tecnologia à comunicação educacional

“Neste contexto de transformações socioculturais provocadas pela disseminação das tecnologias “da inteligência”, a mediatização das mensagens pedagógicas está no coração dos processos educacionais, merecendo este novo conceito que nos detenhamos um pouco em sua significação.” P. 26

“Mediatizar significa, então codificar as mensagens pedagógicas, traduzindo-as sob diversas formas, segundo o meio técnico escolhido.” “Definir as formas de apresentação de conteúdos didáticos, previamente selecionados e elaborados, de modo a construir mensagens que potencializem ao máximo as virtudes comunicacionais do meio técnico escolhido no sentido de compor um documento autossuficiente, que possibilite ao estudante realizar sua aprendizagem de modo autônomo e independente.” P. 26

“Mediatizar significa conceber metodologias de ensino e estratégias de utilização de materiais de ensino/aprendizagem que potencializem ao máximo as possibilidades de aprendizagem autonômoca. Isto inclui desde a seleção e elaboração dos conteúdos, a criação de metodologias de ensino e estudo, centradas no aprendente, voltadas para a formação da autonomia, a seleção dos meios mais adequados e a produção de materiais, até a criação e implementação de estratégias de utilização destes materiais e de acompanhamento do estudante de modo a assegurar a interação do estudante com o sistema de ensino.” P. 26 e 27

“As TIC, ao mesmo tempo em que trazem grandes potencialidades de criação de novas formas mais performáticas de mediatização, acrescentam muita complexidade ao processo de mediatização do ensino/aprendizagem, pois há grandes dificuldades na apropriação destas técnicas no campo educacional e em sua ‘domesticação’ para utilização pedagógica. Suas características essenciais – simulação, virtualidade, acessibilidade a superabundância e extrema diversidade de informação – são totalmente novas e demandam concepções metodológicas muito diferentes daquelas metodologias tradicionais de ensino, baseadas num discurso científico linear, cartesiano e positivista. Sua utilização com fins educativos exige mudanças radicais nos modos de compreender o ensino e a didática.” P. 27

Novos professores, outros alunos

“O papel do professor tende a ser amplamente mediatizado: como produtor de mensagens inscritas em meios tenológicos, destinadas a estudantes a distância, e como usuário ativo e crítico e mediado entre estes meio e os alunos!” p. 28

“Os novos ‘modos de aprender’ são ainda uma incógnita para a maioria dos professores. “ (Perriault, 1996b)

“A introdução da imagem e seus suportes técnicos (a tela da TV e do computador) no universo da palavra escrita suscita muitas interrogações ainda sem resposta. Como utilizar a imagem como fonte do saber?” p. 28

“Embora seja ainda uma utopia o aluno autodidata que espera encontrar no professor um parceiro para construção do conhecimento, a autodidaxia já é uma característica essencial dos modos de aprendizagem das crianças e jovens em sua relação com as máquinas de informação e comunicação, sendo, pois, fundamental que a formação de professores inclua este elemento novo!” p. 28

“O professor terá que aprender a trabalhar em equipe e a transitar com facilidade em muitas áreas disciplinares. Será imprescindível quebrar o isolamento da sala de aula convencional e assumir novas e diferenciadas funções. A figura do professor individual tende a ser substituída pelo professor coletivo.” P. 29

“O professor terá que aprender a ensinar a aprender!” p. 29

Educação como autoformação – “Sem uma educação adequada para a apropriação crítica desses dispositivos técnicos, corremos o risco de criar não uma sociedade da informação, mas uma sociedade de ciberexcluídos ou de cibernaufrágos.” (Martin, 1998) p. 29

“Deve a escola educar também para a cidadania ou só para a produção?” p. 29

 Capítulo 3 – Mídia-educação: Ética e Estética 

O papel da televisão no processo de socialização

“Os jovens, em sua maioria, consideram que aprenderam algo importante e sério pela televisão. Para eles, a telinha tem uma grande legitimidade, como fonte do saber, semelhante à da escola. É portanto, reconhecida como ator importante pelos próprios sujeitos desse complexo processo de socialização.” P. 31

“A sociedade perpetua-se através de um amplo processo de transmissão a cultura: o saber acumulado (a ciência e a técnica), os valores, as representações e as normas coletivas (as estruturas simbólicas) são apresentados às crianças e adolescentes como imagens e modelos em sua experiência, utilizando-se deles em suas interações, aceitando-os ou recusando-os, testando seus próprios limites. A socialização é o resultado destas interações características deste processo são mediatizadas, principalmente, mas não exclusivamente, pela linguagem verbal, razão pela qual sempre baseamos nossas pesquisas na análise do discurso dos jovens sobre a telinha e suas mensagens.” P. 32

“Nas sociedades contemporâneas (de economia globalizada quanto ao capital, mas localizada quanto ao trabalho) a importância dos meios de comunicação e, mais recentemente, das tecnologias de informação é muito grande em todas as esferas da vida social, com conseqüências claras para os processos culturais, comunicacionais e educacionais.” P. 32

“A escola, por exemplo, instituição especializada em socialização, ainda não absorveu as transformações nos modos de aprender de sua clientela, trazidas pela televisão, e já se depara com os laboratório de informática, que vieram para ficar, com suas novas linguagens multimídias e potencialidades interativas.” P. 32

“O processo de socialização é o espaço privilegiado da transmissão social de valores, dos modos de vida, das crenças e representações, dos papéis sociais e dos modelos de comportamento.”p. 33

“Enquanto a família, classe social, o bairro e, às vezes, a religião são fatores de unificação – o objetivo é o consenso – difundindo os valores e normas consideradas comuns a todos numa sociedade.” P. 33

“As significações transmitidas pela televisão são apropriadas e reelaboradas pelas crianças a partir de suas experiências e integram-se ao mundo vivido no decorrer de novas experiências.” P. 34

“A aprendizagem da criança frente á televisão é involuntária, inconsciente, sem querer, sem saber.” P. 35

“É extremamente difícil avaliar a importância da televisão enquanto instituição de socialização, devido à complexidade deste processo, no qual a interiorização das normas e valores transmitidos depende também da aceitação ativa das crianças e adolescentes, que lhes atribuem – ou não – legitimidade.” P. 35

Violência

Belloni fala sobre o sucesso da violência na televisão, cada vez mais utilizada como estilo estético, o que tende a banalizar o efeito no espectador, que acaba achando engraçadas as cenas de terror.

“O excesso de imagens violentas na TV, característica antiga da nossa paisagem audiovisual, tende a naturalizar e a legitimar o uso da violência como meio de resolver conflitos.”

Onde a cultura dominante é o consumismo e a felicidade é identificada como mercadoria. Bem X Mal. A divisão maniqueísta do mundo que lhes é proposta. E essa relação, tende a “justificar o uso da violência como meio legítimo de resolver conflitos, desde que usada em defesa de fins considerados nobres, do ‘bem’, identificado com a sociedade, o país, a ordem ou a justiça.” P. 37

E a não violência acaba sendo ‘conotada como símbolo de covardia e caminho para derrota e a frustração.’ P. 38

“Num país de profundos contrastes sociais, minado pela miséria e ignorância, a violência acaba sendo percebida como meio legítimo de sobrevivência!” “Ações coletivas para resolver problemas não fazem parte do discurso dos jovens, coerente com a moral predominante no discurso televisual.” p. 38

“A crença de que a televisão reflete, como um espelho, a realidade violenta que vivemos parece ser uma idéia aceita por muitos jovens, mas também por adultos. A participação – mediatizada pela TV – nos conflitos mundiais, por exemplo, dá ao telespectador a impressão de viver num mundo violento, mesmo quando ele mora numa pacata cidade do interior. Para a maioria, que vive nos grandes centros urbanos, esta impressão é confirmada pela violência real. É preciso relativizar esta questão: mesmo vivendo em cidades violentas não somos testemunhas ou vítimas de situações violentas todos os dias.” P. 38 e 39 (Bellonii, 1992ª)

“Dupla ilusão criada pela televisão: de que reflete o real de modo realista e de que esta realidade é terrivelmente assustadora, cheia de violência que nos ameaça, mas que finalmente somos felizes em viver de modo tranqüilo.” P. 39

“A violência é valorizada como sinal de coragem e meio de obter êxito (ser um ‘vencedor’), a não violência E acaba sendo ‘conotada como símbolo de covardia e caminho para derrota e a frustração.’” P. 38 e 39

Sexualidade

“A televisão funciona como uma janela para o mundo dos adultos, apresentando às crianças e adolescentes, formas estereotipadas dos valores, normas e modelos de comportamento socialmente dominantes!” “E eles não tem maturidade ainda de compreender, muitas vezes, provocando conflitos e ansiedade”. P. 40

“As narrativas vão sendo construídas a partir de fórmulas de sucesso, e a cada repetição, o estereótipo é refinado, aperfeiçoando seu potencial comunicativo.” P. 41 E essa repetição acaba se tornando modelos de comportamentos padronizados. P. 44

“As mensagens da telinha, porém, também agem por impregnação, de modo quase subliminar, pois o ‘conteúdo’ é mascarado pela forma, por apelos comunicacionais muito eficazes, tais como alusões arquetípicas, situações humorísticas ou de grande dramaticidade, personagens vividos por galãs ou atrizes muito apreciadas.” P. 41

Belloni ressalta que meninas e meninos tem comportamentos diferentes em relação à televisão. (p. 43)

Educação para as mídias

Diante de todos os problemas listado por Belloni, uma educação para mídia se faz necessária.

“É ilusório pensar que a mídia triunfante irá renunciar ao seu poder e se adaptar aos objetivos da escola. Também é ilusório esperar que as famílias (sobretudo nas camadas mais pobres) tenham condições de conscientizar seus filho se educá-los para a leitura críticas das mensagens da televisão. Somente a escola pode – teórica e praticamente – conceber e executar mais esta tarefa fundamental de educação para mídia. Como depositária do espírito crítico, responsável pela elaboração das aprendizagens e pela coerência da informação, a escola detém a legitimidade cultural e as condições práticas de ensinar a lucidez às novas gerações. Diante dos desafios da técnica em geral e da mídia em particular, a escola deve se adaptar, se reciclar e se abrir para o mundo, integrando em seu ensino as novas linguagens e os novos modos de expressão.” (UNESCO, 1984 apude Belloni, 1991) p. 44 e 45

“O receptor crítico, ativo, inteligente, capaz de distanciar-se da mensagem midiática e exercer sobre ela seu poder de análise e crítica, de outro lado, a formação do comunicador, visando à qualificação plena do profissional não apenas competente, mas responsável, capaz de distanciar-se do imediatismo típico da mensagem midiática e de exercer sobre ela uma influência esclarecedora, realmente informativa – ética – escapando das armadilhas da manipulação fácil.” (Belloni, 1995) P. 45

“A educação para a mídia é a necessidade de integrar os meios de comunicação à escola, do ponto de vista dos novos modos de expressão que eles introduzem no universo infantil.” “A mídia representa um campo autônomo do conhecimento que deve ser estudado e ensinado às crianças da mesma forma que estudamos e ensinamos literatura, por exemplo. A integração da mídia à escola tem necessariamente que ser realizada nestes dois níveis: enquanto objeto de estudo, fornecendo ás crianças e adolescentes os meios de dominar esta nova linguagem; e enquanto instrumento pedagógico, fornecendo aos professores, suportes altamente eficazes para a melhoria da qualidade do ensino, porque adaptados ao universo infantil.”   P. 46 (Belloni, 1991)

Nesse sentido, “será preciso formar os educadores para esta tarefa e também promover o desenvolvimento dessa ‘nova disciplina universitária’”, onde as ciências da informação e comunicação se cruzam. (Gonnet, 1997)

O papel da escola é formar um cidadão competente para o futuro! P. 48

Capítulo 4 – Reflexões sobre a mídia

“Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido virou uma representação. O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre as pessoas, mediatizada pelas imagens.” (Guy Debord, A sociedade do espetáculo, 1971)

Na sociedade do espetáculo e de produção de massa, ‘a obra de arte’ (que sempre foi mercadoria) é agora produzida em série e reproduzida ao infinito pela fria eficiência da máquina, diria Benjamin. A produção cultural é coletiva, o que deixa pouco lugar à criação original e individual e à arte popular. P. 50

“Além de babá, a televisão atua como professora, como conselheira e, provavelmente, como companheira!” p. 51

Belloni diz que a TV age como uma droga sobre as crianças pequenas, de acordo com inúmeras pesquisas.
P. 51

“É preciso compreender as regras de produção desse discurso ideológico da mídia que invade nossa vida cotidiana. E estas regras são produzidas nos países desenvolvidos.” P. 52

“A utilização das máquinas para a produção é antiga e já mereceu atenção de grandes pensadores, a começar por Marx no século XIX. O que é novo na sociedade atual não é a mecanização do trabalho, mas a mecanização da vida em geral, da esfera privada da vida social: o lazer, a cultura, a vida doméstica. O homem moderno, urbano e ‘racional’ passa durante seu dia de uma máquina a outra para trabalhar, tranportar-se, preparar seus alimentos, conversar, divertir-se e até namorar.” P. 54

“Toda sociedade reproduz sua cultura no indivíduo, sob forma de personalidade.” P. 56

“O homem e sua consciência são produtos de uma sociedade. O homem é um ser social e isto significa que ele é o resultado de sua sociedade. O processo de socialização, realizado pela família, escola e outras instituições sociais, influi sobre o indivíduo para que ele se conforme às normas sociais dominantes, ao mesmo tempo em que lhes transmite os conhecimentos técnicos acumulados pelas gerações anteriores e desenvolve habilidades necessárias para sua adaptação ao sistema social e econômico.” P. 56

“A escola partilha cada vez mais sua responsabilidade na socialização dos jovens e crianças: a televisão, em particular, preenche parte do tempo livre das novas gerações. Aumenta, assim, inexoralmente, o controle da sociedade organizada, planejada, tecnificada, sobre o indivíduo. O controle social é então exercido sob múltiplas formas e através de instituições várias entre as quais a escola e a mídia são as mais importantes.” P. 57

“As crianças e adolescentes nas sociedades contemporâneas, aprendem mais com a televisão do que com pais e professores.”

“Os homens de todas as épocas sempre tentaram exorcizar o tempo através de imagens!”
“Essa vontade de transcender a morte e ficar para sempre cristalizado na representação de si mesmo.” “O retrato e a estátua nos permitem evitar a morte espiritual – o esquecimento!” p. 60

Se antes o homem produzia as imagens, agora são mecanismos que ‘sozinhos’ criam imagens, que acabam substituindo as experiências realmente vividas. Mas de alguma forma, é uma forma do homem se perpetuar...

O homem moderno é narcisista. Se preocupa com a aparência, com sua imagem, com a velhice e morte, e não pensa nas gerações futuras.

“A vida moderna é tão completamente mediatizada por imagens eletrônicas que não podemos deixar de reagir aos outros como se suas ações – e as nossas – estivessem sendo gravadas e transmitidas, simultaneamente, a uma audiência invisível, ou então armazenada para mais tarde serem examinadas de perto. Sorria, a câmera observa você!” (Lasch, 1979) – Relação com o filme O Show de Truman.

“A celebridade é um mito típico das sociedades contemporâneas. ‘Aparecer na televisão’.” P. 63 (fascínio por reality shows)

“Este mundo do simulacro, da aparência, vai formando a personalidade das novas gerações. A escola enquanto canal de socialização vai perdendo sua importância no processo de transmissão cultural e especializa-se na transmissão de conhecimentos e técnicas ligadas principalmente ao mundo do trabalho, da produção. A educação entendida como ‘formação integral da personalidade’ fragmenta-se como função de diferentes instituições sociais especializadas.” P. 65

“O mundo real povoa-se de imagens em lugar de ser animado por ações e interações humanas.”

“Esta presença constante de imagens fictícias, que ocupam partes cada vez maiores do tempo livre das crianças, rouba-lhes o tempo da não-escola, dedicado ao brinquedo e à imaginação e à vida social cheia de experiências interativas com seus pares e com os adultos.” P. 66

Capítulo 5 – Programa Formação do Telespectador

“Como modernizar o ensino – adaptando-o às exigências das novas gerações – sem perder de vista suas finalidades maiores (formação do sujeito consciente autônomo, ou da cidadania), sem se deixar envolver  dominar pelo tecnicismo mecânico e redutor?”” p. 70

Belloni defende este programa com a finalidade de que o aluno possa ‘perceber os truques da telinha, compreender suas técnicas de persuasão, desmontar sua magia para ver como funciona.’

Um usuário que possa ‘escolher a programação, pratique o zapping inteligente, exercendo sempre um olhar atento e crítico sobre as mensagens da televisão. E até mesmo desligar esta máquina muito especial e ir viver a vida em vez de ficar a vendo passar na telinha.’ P. 70

Belloni defende a importância de dar informações, levantar questões, provocar os jovens, criando desafios que deverão contribuir para o desenvolvimento do senso crítico e da percepção consciente, para formação de atitudes ativas frente à televisão. Isso seria educar para a mídia!!

Diante da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a escola deve se preparar para ensinar Mc Luha e Gutemberg, o que ‘significa estudar a televisão e suas mensagens como se estuda literatura.’