sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Twitter - fragmento virtual

Janeiro de 2011. Verão. Calor.
Mestrado sem bolsa e recesso escolar: trabalho temporário necessário.
Escritório de advocacia do André. (meu noivo)
Secretária.
Tranquilo. Café, telefone, scanner, xérox e organização.
Internet. Google. Twitter.
Fragmento. Agilidade. Compulsão.
Vício.
Hoje de tarde desci pra fazer um lanche com o André e tinha passado a manhã inteira (e comecinho da tarde) sozinha no escritório pesquisando textos do mestrado (impressão), atualizando blogs, visitando o blog de outros, escrevendo pra amigos no facebook (eles não usam mais orkut - snifis Mark!), checando a caixa de e-mails (que anda meio parada) e tuitando compulsivamente.
Como não costumo falar sozinha (e não há nenhum cachorro ou planta aqui pra servir de desculpa), fiquei muito tempo quieta, mas falando mentalmente pelo twitter tudo que se passava na minha cabeça e que me interessava postar. (com esperanças de respostas - TT, e às vezes me apavorando com quem posta o Nada ou o o que parece Inútil, tipo...ai que sono vou dormir! - falando sozinho talvez? pensando alto?)
Com a Era Digital, e sendo o twitter um forte exemplo disso, o pensamento parece um dedo frenético teclando na mente tudo aquilo que se passa diante da nossa vida e é possível captar e teclar virtualmente. Pensamos assim ou passamos a pensar assim, mais rápido, para dar tempo de teclar?? (como a minha dúvida sobre imaginar, sonhar ou reconstituir um fato importante da vida depois que o cinema criou a câmera lenta)
Enfim, falado sobre a saída para o lanche, notei que minha cabeça ainda estava presa aquele jeito "twitter" de pensar em fragmentos e comecei a conversar freneticamente com o André e ele pedia pra eu repetir o que eu estava falando porque não estava entendendo nada. Eu começava falando de um assunto e terminava em outro.
Notei que eu estava falando em fragmentos. Na verdade, quase em 140 caracteres.
O treino em tuitar as informações (em pouco espaço disponível) tem sido tão intenso, que tenho feito clipping (termo jornalístico) dos meus próprios pensamentos. Com mais ênfase e menos formal, notei imediatamente que por passar tempo demais no twitter, tenho "garimpado" palavras-chave dos meus pensamentos para falar o que quero, porém numa conversa presencial, em que o tempo não acompanha o pensamento, pelas inúmeras distrações, ela se torna inviável.
Como é possível conversar em fragmentos no twitter e pessoalmente a conversa fragmentada se tornar tão confusa?
E antes mesmo de começar a usar o twitter compulsivamente, eu já falava em fragmentos, por tentar dar voz à tudo aquilo que se passa e passava na minha cabeça. Ou seja, uma total desordem que precisa ser ordenada pelo receptor da mensagem, já que ele não conhece a origem da informação.
Sempre tive lapsos de falar pedaços de assuntos e como a pessoa não entendia, eu me tocava que precisava explicar o resto, o contexto, pra mensagem ficar mais clara.
Com isto, usando compulsivamente o twitter há apenas 5 dias e timidamente há menos de 1 mês, tenho me apavorado com os efeitos que ele causa em mim e nas conversas que tenho imediatamete após seu uso.
Se já sou uma pessoa compulsiva, que fala rápido, que devaneia sobre vários assuntos e tem super concetração, ao mesmo tempo que dificuldade em se desconcentrar, significa que o twitter pode ser maléfico de alguma forma (?), a ponto que tenho dificuldade em não usá-lo?
É possível ser um novo vício? Como coca-cola, cerveja, chocolate e orgasmo?
É quase como encontrar um lugar de loucura. De falar sozinho (tipo escrever bom dia quando acorda, como se alguém fosse sempre responder!) e não se sentir maluco se ninguém responde e ao mesmo tempo achar que só porque uma pessoa não te responde, não quer dizer que não te leia ou que ignore tudo que vc fala. (as estatísticas do meu blog de cinema me revelaram isso com 1100 visualizações de uma matéria postada há apenas 3 meses! E meu blog não é popular, por isso acho o número alto!)
Na real, tenho achado tanto o facebok quanto o twitter o novo "falar no msn em grupo".
O problema é que nem sempre quero que todos os add participem da mesma conversa!

É uma suruba de conversas, todo mundo lendo e participando na conversa de todo mundo. E diferente do orkut, parece não haver "proteção" nenhuma (camisinha?). É o momento pós-humano bombando virtualmente!

E o mais engraçado é a quantidade de "cosquinhas-preciso-postar-isso" que vejo os outros sentirem, sem talvez me excluir desta.

É a quebra de privacidade absoluta, inclusive da privacidade de ser quem se é, pois revela, ainda que indiretamente, os gostos, interesses, desejos, traços de personalidade (agressivo, mal-humarado, revoltado, rebelde, sem causa, mentiroso, boçal, falso, malandro, fofoqueiro, fútil, superficial, culto, preocupado, simpático, egôcentrico, etc etc etc...), além de comprometer uma série de comportamentos e atitudes, às vezes incoerentes, já que o virtual é (quase) eterno - já diria a ex do Mark no filme "A rede social" de David Fincher.

Sei que já existe há algum tempo e talvez eu possa estar sendo repetitiva, mas o twitter me parece o coroamente chave de uma humanidade que se desprende cada vez mais do corpo e projeta sua vida, quase na íntegra, para o virtual!


Férias....

Ai ai...como as férias são boas....relaxar a mente, o corpo, os dedos...
Mas como é difícil voltar ao ritmo...
Num trabalhinho tranquilo de verão, ando adiando certas leituras...
A cabeça pipoca de ideias, mas nem sempre os dedos acompanham...
E tenho vontade de ler tanta coisa, quando tenho que ler determinadas coisas...
O lado bom dessas "férias" é pesquisar sobre mídia-educação...então até que há um lado bem produtivo de conhecer e usar o facebook, twitter e ter visto "A rede social" no cinema!