quarta-feira, 30 de novembro de 2011

II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica - 2012


O Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica (FMEPT) é um fórum temático do Fórum Mundial de Educação (FME), um movimento pela cidadania e pelo direito universal à educação que busca levantar propostas que integrem a plataforma mundial de educação. A primeira edição do FMEPT foi realizada em 2009, em Brasília. Para a segunda edição do Fórum, a cidade de Florianópolis – capital do estado de Santa Catarina - foi escolhida para sediar o evento que será realizado de 28 de maio a 1º de junho de 2012. O tema desta edição será Democratização, Emancipação e Sustentabilidade e algumas informações já podem ser encontradas no site

Minha mãe faz parte da organização do evento e me adiantou que Edgar Morin deve participar do evento! Eba!!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Era uma vez uma banca de qualificação!


Depois de 1 ano e 3 meses, hoje cumpri a penúltima etapa do mestrado, antes da defesa (grande dia) ano que vem: a qualificação do projeto de dissertação

A banca contou com presenças de peso, Dra. Profª Aglair Bernando (Cinema e Jornalismo - UFSC), Dra. Profª Gilka Girardello (PPGE-UFSC) e Dra. Profª Adriana Fresquet (PPGE-UFRJ), via parecer por e-mail, além do querido suplente Dr. Profº Leandro Belinasso (PPGE-UFSC).

Até ontem eu sentia expectativa, ansiedade e curiosidade. O que será que a banca iria achar e avaliar?! Será que eu teria rendido e produzido o suficiente?! Será que não estava 'viajando na maionese'?!

E hoje senti alívio, mais confiança e mais segurança no meu trabalho, ou melhor, 'nosso' trabalho. Tem bastante coisa pra fazer pela frente, mas o que fiz até aqui valeu a pena!! E não, não estou 'viajando na maionese'!! =)

Recebi elogios, mas também ricas sugestões, ressalvas, dicas e questões para pensar e aprofundar. E eu não poderia deixar de dividir o 'mérito' (se é que já existe um, neste momento tão prematuro) com minha orientadora Dra. Profª Mônica Fantin. Seu comprometimento, dedicação, paciência e responsabilidade são inspiradores e exemplos a serem seguidos. Extremamente organizada e exigente, a Mônica me ajudou a ser uma orientanda, aluna e pessoa melhor. Não desistiu de mim, mesmo quando fui a mais teimosa das teimosas, ou imatura em relação ao mestrado. Talvez eu ainda seja teimosa e imatura, mas tenho certeza que melhorei um pouquinho e entendi que essa dissertação que está sendo construída não é só mais minha, mas nossa!! Jamais me senti sozinha nessa penúltima etapa do mestrado e se sinto mais confiança e segurança em mim é porque minha orientadora foi exigente o suficiente para cobrar e apontar o que melhorar, o que aprofundar, o que ler e articular. 

Unido a tudo isso, recebi encaminhamentos na perspectiva dos estudos culturais, além de pensar em alguns desafios que virão pela frente, mas que encaro de uma forma bem positiva e motivadora!!  Enfim, só posso agradecer as ricas contribuições e a sensação de dever cumprido em mais uma etapa do mestrado!!

Estou caminhando para reta final, com um repertório um pouco mais ampliado, com desafios novos pela frente, com contatos super importantes, algumas ideias amadurecidas e com a mesma empolgação de voltar a lecionar, mas me sentindo mais preparada, ainda que  inacabada!! (Sempre estarei! Que bom!!)

Para iluminar outros ansiosos em relação a banca de qualificação, só posso dizer que não existe fórmula secreta, pois cada trabalho, banca e contribuição detém suas particularidades e peculiaridades! Porém se ajudar, apresentei uma versão de 100 páginas, em sua 6ª versão, dividida em 4 capítulos, com 3 em desenvolvimento. A fundamentação teórica recebeu maior atenção e tudo que precisará ser aprofundando, foi indicado em notas de rodapé para antecipar a banca de possíveis observações em relação a estes aspectos. Como a pesquisa parte de uma experiência pessoal, a metodologia ainda está sendo estudada entre uma pesquisa com estudo de caso ou pesquisa auto-etnográfica. Porém, a banca nada comentou sobre isto e fui eu quem perguntei se o que estava colocada era suficiente ou dava conta. 

Uma coisa que acho importante fazer antes do encontro com a banca é se distanciar o máximo possível do texto por um tempo e ler minuciosamente, levantando tudo que parece frágil, questionável, contraditório, etc. Isso ajuda a se antecipar com as possíveis colocações e elaborar questões para fazer, com aval do orientador(a) caso não sejam levantadas e possam vir a ajudar.

E mais importante (grande desafio pra mim, que costuma ficar sempre na defensiva!): não perder tempo se justificando sobre os problemas, mas aproveitá-lo para ouvir tudo que a banca diz e questionar tudo que pode ajudar a conduzir o trabalho para reta final. O que passou, passou e o tempo que sobra deve ser aproveitado para preencher todas as lacunas e fragilidades! 

A parte boa é que agora o estudo é totalmente focado e objetivo, com o compromisso de corresponder com todas, se possível, contribuições da banca.

Dito isto, só posso comemorar, afinal é normal desanimar de vez em quando, passar semanas sem querer ler ou estudar, sentir insegurança e frustração, virar noites 'psicografando' autores e ideias, sentir-se despreparado e inacabado, ter fases onde é necessário se esforçar em lembrar dos motivos de se 'enfiar' numa pós-graduação, mas também de transformar-se a cada leitura e reflexão, de se conhecer melhor, de perceber quem são as pessoas que te apóiam nos momentos mais sensíveis e instáveis, de entender que mais importante que ler e citar diversos autores, é a qualidade da leitura, que se reflete na articulação dos conceitos, das ideias e propostas. Mais vale usar poucos autores, mas muito bem apropriados, problematizados e questionados, que usar vários, nuam espécie de colagem, sem posicionamento ou reflexão. Trabalhos de 'colagens' existem aos montes, mas posicionar-se é o grande desafio. Digo por mim, já que me posicionar diante de tudo me torna uma pessoa mais solitária! 

Debater nas aulas, com amigos, em qualquer lugar é exercitar a capacidade de articulação do conhecimento (exemplo do filme recente "Sem limites"), então se alguém sente dificuldade em escrever e falar, pode ter relação com os eternos silêncios e submissões. Discutir é arriscar, trocar, experimentar, errar, tentar, recusar, aceitar, questionar, problematizar, pensar, articular. E é também expor-se! Calar-se diante do mundo é calar-se diante de tudo que nos integra. Como se calar diante de tantos fatos, acontecimentos, ações, leituras, posicionamentos e pessoas?! Em todas suas singularidades e multiplicidades?! Por isso recomendo...discussões a vontade! Em toda hora e lugar, sem ferir o bom senso, se possível! (meu outro grande desafio!) E é claro, que no meio de tudo isso, observar e ouvir também é necessário, tão importante quanto!

Enfim, fazer mestrado é mais do que continuar estudando e buscando contribuir para pesquisa acadêmica ou para aperfeiçoar a formação. É também descobrir sobre si mesmo, sobre o mundo e suas verdades variáveis! É desaprender a ser convicto, fechado, preconceituoso, e permanecer com a eterna sensação de estar inacabada(o), sempre!! Que bom!

E bom seria se todos escolhessem o caminho difícil, de continuar estudando, inquietando-se, descobrindo-se e questionando esse mundo, tão injusto e desigual, naturalizado como normal e aceitável! Fazer caridade é apenas aceitar o mundo como é, praticando uma ação que visa amenizar a 'culpa' de não estar no final da pirâmide. Para transformar esse mundo, talvez tenha que ser a 'marteladas' (Nietzsche) e é preciso coragem para confrontar tudo e todo mundo, com a esperança de que alguma 'semente' da revolta e transformação germine no mais acomodado dos seres. E martelar traz solidão, mas é preciso ser forte e persistente para ser tão 'solitário'!! Que Deus, enquanto origem do eterno desconhecimento humano, possa me dar força o suficiente para 'martelar' até o fim! =)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ABCiber 2011 - “Ator-rede e cibercultura”


com Fernanda Bruno (UFRJ), Erick Felinto Oliveira (UERJ), Lúcia Santaella (PUC-SP)e Theophilos (via web-conferência) e André Lemos (não pode comparecer)

Resumos dos Trabalhos e comentários disponíveis aqui!

Fui assistir a essa mesa temática "Ator-rede e cibercultura” do 5 Simpósio ABCiber 2011, dica da colega nic@ Lyana e gostaria de ressaltar que é um assunto 'novo' pra mim e apenas anotei aquilo que consegui pescar nas apresentações. Em geral foi bem interessante, porque me pareceu uma nova proposta de pensar a pesquisa acadêmica, através dos 'rastros' que deixamos ao navegar e 'agir' na 'rede'. Como discutimos esse momento de 'hibridismos' na sociedade 'midiática e digitalizada', parece um assunto de extrema importância para entender pensamentos, movimentos, falas atuais e futuras na Academia. 
 
Achei curiosa a fala de Lucia Santaella: "Eu sempre digo aos meus alunos: se não conhecerem 30% da obra de determinado autor, nem citem!" hahaha Ótima fala! Fica dica dela!

Enfim, espero que a contribuição seja útil de alguma forma!! Seguem as impressões de cada apresentação, na ordem em que aconteceram!

O social não existe de muitas maneiras; o social está por fazer. Ressonâncias de uma ontologia política das redes para a cibercultura”

Fernanda Bruno

Fernanda diz que ‘o social não existe de muitas maneiras, pois está por vir’. Cita Bruno Latour e Aristóteles para afirmar que o ser ‘existe’ de muitas maneiras e está por ‘descrever’. Distingue humanos de não-humanos, onde inclui seres não-humanos naturais e artificiais (computador, Internet, etc). Com isto, diz que agir é produzir uma diferença e que nunca agimos sós, portanto um ator-rede pratica uma ação distribuída, onde não somos senhores de nossas próprias ações, nunca agimos sós e nem somos conscientes de nossas ações. Cita Marx ao dizer que para ele é a condição social que define nossa consciência. E questiona: “Quem age conosco?” E responde dizendo que são entidades invocadas, coletivos sociotécnicos.
Neste sentido, as ações do ator-rede deixam rastros. Toda ação no ambiente virtual (internet) deixa rastros que podem ser potencializados e utilizados para vigilância, fins publicitários, etc.
Fernanda diz que se antes haviam pesquisas, questionários, etc para fazer levantamento de dados, hoje estes ‘rastros’ através de programas e sistemas de coleta de dados acessam informações que antes eram de difícil acesso.
Ela mostrou alguns exemplos de infográficos com dados de usuários do Twitter, onde um analisava a expansão da primeira tuitada sobre o terremeto Virgínia. Em outro exemplo, o infográfico mostrava o rastreamento de posições políticas a partir do twitter, produzindo ‘desenhos’ globais – mapas. Em um terceiro exemplo o infográfico era interativo e rastreava o aspecto político social do mundo em tempo real. Fernanda acredita que esse conhecimento dos rastros proporciona uma reinvenção política, na medida em que coleta dados em tempo real. Ela mostrou outro exemplo de infográficos que ‘desenham’ as revoluções pelo mundo, promovendo uma reflexão de como ‘retraçar’. (Ex.: tuites sobre Wall Street)
Ela também mostrou uma foto de um varal de propostas em escala caótica, de algum movimento político, que foi criticado pela mídia, mas que gerou um twitômetro onde os interessados poderiam votar nas propostas que se identificavam. Ganhou um alcance global. Seu grande questionamento é se tudo isto está sendo usado politicamente, onde se insere a Academia na produção de ‘cartografias’?! Estes rastros também poderiam ser utilizados nas pesquisas acadêmicas para conhecer fenômenos sociais e etc.
Fernanda mostrou outro exemplo de infográfico sobre posições da população da França em relação a uma lei sobre publicações na Internet. E diz que estes ‘mapas’ gerados por rastros podem reverberar, alterar, transformar e/ou mobilizar comportamentos sociais.

“Noções-chave para entender as redes em Latour”
Lucia Santaella

Santaella começa dizendo que todos os participantes da mesa temática estavam pesquisando sobre ator-rede, mas foi por coincidência que se reuniram para o evento. Acredita que ocorreu um ‘movimento coletivo’ de pesquisa e que o ‘rastro’ de origem desses estudos teria iniciado com Theophilos Rifiotis.
Sua fala teve ênfase na TAR (teoria do ator-rede ou ANT – em inglês) onde diz que os significados encontrados no dicionário para estas 3 palavras não dão conta, que deve-se ‘fugir’ deles. O conceito de rede vem de Bruno Latour (extraído dos pensamentos de Diderot) e rede não significa Internet. A TAR difere-se de tudo que já foi feito em todos os contextos e trata-se de algo ‘desconcertante’ ao não se aplicar à nada.
Ela contou uma história do livro de Latour, sobre um aluno que perguntava ao professor como poderia utilizar a TAR em seu estudo de caso. O professor respondia que a TAR é útil quando não se quer aplicar à nada, pois serve de argumento negativo. É uma teoria versa em como estudar e não estudar as coisas e como permitir espaços de criação.
Santaella diz que as teorias convencioanis não servem para espaços que mudam constantemente e radicalmente, por isso a TAR se fez necessária, onde ela se aplica aos discursos que se movem e são movidos. E só ela poderia dar conta das múltiplas entidades ou actuantes em seus morfismos específicos de humanos e não-humanos movidos nas Redes Sociais Digitais (RSD).
A TAR nega e não serve para estudar a Internet, enquanto conceito de computadores interligados, mas referencia-se a algo heterogêneo, onde as redes não designam algo com fios físicos, como um esgoto ou linhas de telefone, mas códigos. A TAR considera um ‘habitante’ em relação ao outro em múltiplas formas de interação. A ‘rede’ enquanto engenharia não tem relação com a TAR, mas somente quando considerada interação.
Santaella diz ‘computadores pensam’ e a TAR serve para rastrear situações onde inovações proliferam e fronteiras são incertas e as margens das ‘entidades’ flutuam. Ao citar Latour, diz que ele sugere o resgate do empirismo e dá 5 conselhos:

A)     Considerar a TAR como descrição e construção de rede como atores/actuantes – vale para humano, software, etc.
B)      Descrever – prestar atenção em coisas concretas
C)      Não há origem ou princípios ou recorrência – ‘nossos objetos’ estão sempre ‘no meio’. Obs.: Não há ‘recortes’.
D)     Saber o que é – descrever é cabível à TAR
E)      Ator-rede não deve ser confundido com objeto, pois a TAR é um método negativo – não diz nada sobre o objeto – importa o que influi e não há informação, mas transformação. Obs.: A ciência rompe como treinamento convencional das ciências sociais.

Principais tópicos relevantes:

A)     Distinguir a sociologia do social da sociologia das associações.
B)      Melhor tratar os atores como actuantes, que são aqueles que agem por muitos outros. (não só humanos). “Quem fala em mim, quando eu falo?”
C)      Mediadores não são intermediários (transportadores), pois traduzem, distorcem, transformam, modificam significados. “Abrir as caixas pretas”. Podem ser um ou muitos e depende do fluxo das ações. Ex.: computador, que é um mediador transparente até que estrague e se perceba sua importância.
D)     Redes – pistas deixadas por agentes de movimento
E)      Tradução – nascimento da TAR – oposta à idéia de transporte.
Santaella também comenta da importância de nos libertarmos da noção de ‘causa-efeito’. E que não há nada mais prático do que uma boa teoria! Mas não há empiria sem o auxílio de teorias poderosas!! Com isto, diz que não se pode colocar ‘a mão na massa’ sem antes conhecer bem os ‘ingredientes’! (Não usar a TAR sem conhecê-la muito bem!!)

“’Bruno Latour mit deutscher Akzent’:  Convergências entre a Teoria Ator-Rede e as Novas Teorias de Mídia Alemães”
Erick Felinto

Erick propõe uma associação do pensamento de Latour com o de Benjamin.

Ele diz que Latour promoveu uma reforma nas ciências humanas. E criticou (juntamente com Heidelberg) ‘cruelmente’ o texto mais popular de Benjamin e um clássico nas teorias das mídias: “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, afirmando que Benjamin ‘errou’ em tudo que citou no texto.
Erick se perguntava então o porquê dessa agressividade e nos aconselhou que se deve desconfiar da popularidade e desconfiar também da desconfiança!!

Ele destaca então dois pontos:
-agência dos objetos
-tradução/mediação

E comenta sobre a ‘angústia da influência’ sobre autores que sofrem o peso de estar sempre a sombra dos grandes mestres e clássicos, tentando ser original. Ele diz que uma teoria é híbrida, nunca é pura porque é resultado de diferentes ‘atores’, motivada pro paixões.
                Ele acredita que Benjamin seja um visionário que antecipou a teoria de ator-rede antes mesmo de Latour, pois Benjamin acreditava que era preciso ‘pensar a linguagem não só das ciências humanas, mas também das coisas. (justiça, arte, ciência, etc).’ Erick cita dois textos de Benjamin para promover aproximações com Latour. O texto de sua juventude “Sobre a linguagem em geral e sobre a linguagem dos homens” e “A tarefa do tradutor”.
                Erick cita Benjamin que dizia que ‘as coisas falam’ numa linguagem no sentido de se ‘exprimir’ e por isso os homens as nomeiam e se relacionam com ‘elas’. Isso nos faz repensar sobre os meios, mídias, mediações e tradução.
                Erick cita o autor Gumbrecht, que aconselha as pessoas a pararem de interpretar as obras. O autor sugere que se busque entender o impacto material das coisas sobre nós. O que é esse efeito, impacto, essa ambiência. “Não interpretar a obra, mas que efeito essa obra surte no seu corpo!” Erick usa o exemplo do filme de terror, onde o espectador sabe o que vai acontecer, porque a história sempre se repete, mas a sensação de ambiência com a oba é sempre diferente. O efeito é mais importante que a história.
                Neste sentido, Erick aproxima Gumbrecht com o pensamento de Benjamin e diz que o mundo é como algo formado por coisas, onde tudo pode ser traduzido em algo (Latour). As traduções são o motor do mundo e estas traduções são redes onde há comunicabilidade – tudo que a língua conta tem potencial virtual.
                Erick diz que Latour defende os actantes – não-humanos, porque as ciências sociais não consideraram as coisas como objetos?! Porque não se procurou sentido para as coisas?! Ele cita o mesmo exemplo de Santaella, do computador que quebra, que só emerge como um ser importante quando deixa de funcionar!
                Foi na modernidade que se separou cultura de natureza e se elaborou um projeto de separação de domínio humano de não-humano, excluindo as crenças primitivas e Latour sugere esse resgate, pois nessa época as coisas tinham vida. Natureza é igual a cultura!
                Erick traz o texto “Preocupações de um pai de família” de Benjamin sobre o Odradek, um suposto novelo de lã ou objeto não identificado que está em todos os lares e representa algo entre o não-vivo e vivo, para contrapor com a dicotomia natureza-cultura; humano-não-humano. O personagem do pai diz que o Odradek é inofensivo, mas continuará existindo mesmo quando ele se for. Erick então relaciona tudo isso a Freud e a sensação de estranheza que se não se sabe quando alguns seres são vivos ou mortos, com o exemplo do paciente de Freud que era apaixonado por uma boneca. A sensação de incerteza constante.
                Erick diz que Latour é um filósofo do híbrido e cita “A tarefa do tradutor” para dizer que nenhuma tradução ou obra de arte é feita para aquele que não conhece o original. Não existe obra traduzida literal, mas uma recriação que pode buscar a ambiência, a mesma sensação que a original provoca. Traduzir é uma perda e renúncia, uma tarefa de ambigüidade!

“Redes, Agências e Fluxos”
Theophilos Rifiotis

Theophilos inicia sua fala com a noção de técnica, no sentido de que nas pesquisas na ontologia são contra a separação de técnica (análise) e social, porém só se percebe nessas pesquisas estudos sobre humanos em relação a outros humanos. Latour seria aquele que pensaria uma outra forma, e não com uma teoria (TAR), mas com um método. Ele cita o perspectivismo e que é preciso nos libertamos das metáforas da modernidade, pois estamos aprisionados em suas estéticas, segundo Weber.
Rede seria um processo, um fluxo, algo híbrido, traçado pela tradução/descrição, que não está dado e está por vir! É uma purificação da separação entre natureza e cultura. Redes são representações, processos incessantemente produzidos. Rede como produção, pós-social e uma agência distribuída entre actantes.
Latour seria aquele que estaria propondo um projeto para ‘refazer’ a sociologia e superar as relações de separação. Ele ressalta a comunicação mediada por computador, considerando que mediador é aquele que transforma e intermediário aquele que transporta, como já disse Santaella.
Theophilos diz que é preciso repensar a idéia de meio. E que “ação é um evento, não um ato!” Utilizar a TAR é conhecer os riscos de não se chegar a lugar algum. De considerar relatórios como textos e escritas que precisam ser inventadas para as redes que estão por vir. Os grandes desafios seriam: descrever; considerar a violência das interpretações (repertório pessoal que se impõe sobre as coisas para explicá-las); infernidade das explicações e não ter que diversar (bolar/descrever).

No debate em grupo, alguns comentários e questões  foram levantadas como:
-O que se tem de novo na teoria ator-rede?!
-Devemos considerar o mundo da técnica e da sociedade.
-Trollar também é pesquisar.
-Benjamin e McLuhan ‘descrevem’ experiências ao redor.
-Para Latour descrever está dentro do fluxo – não há um sujeito que descreve um objeto. Não há separação e isso remodela preceitos do que se chama INVESTIGAÇÃO.
-Você está dentro do fluxo!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

"Maria Montessori - uma vida dedicada às crianças" de Gianluca Maria Tavarelli 2006


Há quase 2 anos estou fazendo Mestrado em Educação e iniciei atualmente meus estudos em Pedagogia. E confesso (supreendentemente) que nunca havia ouvido falar da 'Pedagogia Montessori', mas de certa forma conheci seu método indiretamente através de outras pedagogias e leituras, que tem como foco principal, a valorização do desenvolvimento natural da criança e o professor como guia.

Esta cinebiografia de 3h10 de duração é emocionante e conta a história de Maria Montessori (Paola Cortellesi), uma mulher persistente, sonhadora, teimosa e corajosa numa época onde o papel principal da mulher era ser submissa, mãe e dona de casa. 

Montessori foi a primeira mulher a se formar em medicina na Itália, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Roma em 1896 e foi lá que iniciou um trabalho com crianças especiais na clínica da universidade, onde ajudou a alfabetizá-los.

Também dedicou-se a experimentar procedimentos em crianças que ainda não tinham idade para frequentar o ensino fundamental, revolucionando a educação em todo mundo, onde contribuiu para criar métodos de ensino para a educação infantil

Devido a seu reconhecimento, participou de um projeto onde criou a 'Casa das Crianças', priorizando a autonomia da criança, já que os alunos vinham de famílias pobres e sem instrução, e noções de limpeza e higiene se faziam necessários naquele contexto.

Montessori criou um método de aprendizagem, conhecido como "Método Montessori", que fazia com que a criança aprendesse com seus próprios erros. Em sua pedagogia os princípios fundamentais eram a atividade, a individualidade e a liberdade. Era contra a violência física e psicológica (como palmadas e castigos). Seus escritos contribuíram bastante para a educação infantil e sua pedagogia se reflete no movimento das Escolas Novas e pedagogia Waldorf, opondo-se aos métodos tradicionais que não respeitam as necessidades e os mecanismos evolutivos do desenvolvimento da criança.

No filme é possível acompanhar suas motivações e contextos de trabalho, bem como a relação secreta que teve com seu professor de psiquiatria Dr. Montesano e o filho Mario, fruto desse amor. Maria foi obrigada a abrir mão do filho, mas jamais deixou de acompanhar seu desenvolvimento e sempre foram muito íntimos. Quando adulto, revelada a verdade, passaram a morar juntos e posteriormente, quando ele se formou em Medicina, passaram a trabalhar juntos. Foi ele quem continuou disseminando o método da mãe, após sua morte aos 84 anos.

Durante o fascismo italiano, Maria foi intimada a participar das modificações nas escolas italianas, já que seu método se disseminou pelo mundo e interessava ao governo, adaptá-lo e disseminá-lo também nas escolas italianas. Porém, chantageada, Maria fugiu com o filho, recusando a se esquivar e distorcer seu método para finalidades políticas!

Maria acreditava que para mudar o homem do futuro era precisar trabalhar com a criança do presente. Somente assim poderia haver uma verdadeira transformação! Através da educação!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

"A hipótese cinema" de Alain Bergala

Este livro é uma das maiores referências para aqueles que se dispõem a pesquisar sobre cinema e educação, na perspectiva do fazer cinema-arte. É uma leitura tranquila, gostosa e super importante. Bergala é uma das referências do meu trabalho e pesquisa.

Em junho desse ano, tive a oportunidade de conhecer Bergala de perto numa palestra no 2º Encontro de Cinema e Escola em São Paulo. Acho sua fala um pouco radical, mas ao mesmo tempo há muitos que distorcem suas visões sobre o cinema. Vale a pena ler por conta própria e conhecer seu trabalho!

Trouxe para o blog um pouco das impressões da minha leitura!

Obs.: Este é o livro original (tenho!!), que já possui uma versão em português, recentemente traduzido pelo CINEAD - projeto de pesquisa e extensão da UFRJ sob a coordenação de Adriana Fresquet. A versão em port. ainda não está disponível comercialmente, mas entrando em contato com a editora da UFRJ, talvez exista algum exemplar. Eu só tenho uma cópia do original em port. =(

Alain Bergala é um diretor francês de filmes de ficção e documentários, atua como professor de Cinema na Universidade de Paris III, trabalhou como diretor e editor na revista de cinema Cahiers du Cinema, e foi conselheiro da área de cinema do ministro francês Jack Lang, que em 2000, elaborou um plano de cinco anos para a introdução das artes no ensino fundamental.

Bergala tem uma experiência com cinema, dentro e fora da escola, de mais de 20 anos e formulou sua ‘hipótese-cinema’, considerando o cinema enquanto arte, para tentar responder a questão “Como ensinar o cinema no âmbito da escola?!” 

A hipótese – análise e criação

Para Bergala a questão não é ensinar, mas iniciar os alunos à arte do cinema. Nesta obra, o autor traz propostas precisas do que fazer e não fazer no contexto escolar. 

Para o autor, o cinema deve ser utilizado, enquanto arte (criação do novo), para promover o encontro com a alteridade, como uma forma do espectador relacionar sua existência a partir da visão do outro, compreendendo o mundo a partir de um olhar diferenciado, sensibilizado a partir da experiência do contato.

“A arte, para permanecer arte, deve permanecer um fermento de anarquia, de escândalo, de desordem. A arte é por definição um elemento perturbador dentro da instituição. Ela não pode ser concebida pelo aluno sem a experiência do ‘fazer’ e sem contato com o artista, o profissional, entendido como corpo ‘estranho’ à escola, como elemento felizmente perturbador de seu sistema de valores, de comportamentos e de suas normas relacionais.” (BERGALA, 2008: p.30)

Bergala diz que Godard considera a cultura como ‘regra’ e a arte como ‘exceção’, no sentido que de não possa ser ensinada, mas encontrada, experimentada e transmitida de outras formas além do discurso do saber. “A arte deve permanecer na escola como uma experiência a parte.” (Bergala, 2008: p.31)

O autor não sabe ao certo se é na escola o verdadeiro espaço para acolher a arte, mas para muitas crianças, é o único lugar onde isso seria possível.

O que ele sugere como abordagem é formar um espectador que vivencie as emoções do criador de um filme. Pensar o filme através do seu autor. Por essa razão, ele não acredita que se deva partir do conhecido para abordar o menos conhecido, pois isso conduz a um afastamento da singularidade do cinema. Para ele, analisar alguns filmes não é suficiente para promover uma mudança no olhar da criança, pois o trabalho para formação do gosto é longo e demorado. O gosto, diferente da opinião, não pode ser negociado, pois é formado a partir da singularidade de cada pessoa, no íntimo de cada um.

Aqui entendo que para ele, não é possível fazer a criança deixar de gostar de alguma coisa, por mais ‘medíocre’ que se seja, pois o ‘bom’ e ‘ruim’ são definidos exatamente pelo gosto. Ao mesmo tempo, Bergala insiste que não se deve perder tempo com ‘filmes ruins ou medíocres’. Ou seja, ele problematiza a questão do gosto, mas define o que para ele seria um bom e mau cinema, e neste sentido acho autoritário e contraditório.

Ele diz que a “arte que se contenta em enviar mensagens não é arte, mas um veículo indigno da arte: isso vale para o cinema”. (Bergala, 2008: p.48) Um filme-arte é duradouro, “permanece vivo, contraditório, irritante e fascinante, cheio de invenções, que continua dando o que pensar quarenta anos depois de sua realização.” (Bergala, 2008: p.49) Por essa razão é natural que num primeiro encontro com um filme-arte, possa haver rejeição violenta, dificuldade de acesso, irritação, onde ainda representa uma possibilidade a ser trabalhada. O problema é quando a atitude for de indiferença, nada tocar o espectador de nenhuma forma.

Desafios para a escola

Bergala considera importante a escola preservar um acervo de filmes alternativos aos de cinema de puro consumo, para que os alunos possam ter autonomia de ver e rever um filme e ter acesso com mais facilidade.

4 propostas e desafios para o professor:

-Organizar a possibilidade do encontro com os filmes

Considerando que um primeiro encontro pode provocar revolta e choque, não é uma tarefa fácil, mas é necessário promover encontros dos alunos com filmes-arte, seja em sessões de cinema, em sala de aula ou cineclubes.

-Designar, iniciar, tornar-se passador

Diferente de muitas teorias pedagógicas, Bergala diz que o gosto pessoal do professor e sua relação íntima com as obras de arte é de extrema relevância, pois “quando aceita o risco voluntário, por convicção e por amor pessoal a uma arte, de se tornar ‘passador’, o adulto muda de estatuto simbólico, abandonando por um momento o seu papel de professor, tal como definido e delimitado pela instituição, para retomar a palavra e o contato com os alunos de um outro lugar dentro de si”. (Bergala, 2008: p.64)

-Aprender a freqüentar os filmes

Bergala sugere que as crianças sejam espectadoras-criadoras, fazendo uma leitura criativa do filme, não apenas analítica e crítica. A escola muitas vezes exige resultados rápidos e precisos, a partir de uma única exibição de um filme, fazendo às vezes, uma análise muito superficial, quando cada criança tem um tempo diferente de receber e relacionar-se com uma obra de arte. Ele considera de extrema importância respeitar este tempo. “O verdadeiro encontro com a arte é aquele que deixa marcas duradouras”. (Bergala, 2008: p.100)

-Tecer laços entre os filmes

O autor considera importante relacionar obras do presente e do passado, tecendo laços e buscando trabalhar uma consciência dessa relação, pois é importante “compreender como toda obra é habitada pelo que a precedeu ou lhe é contemporâneo, na arte em que ela surgiu e nas artes vizinhas, inclusive quando seu autor não o percebe ou o contesta.” (Bergala, 2008: p.68)

A importância do criar

Além de ir ao encontro do cinema-arte, Bergala considera ainda mais importante que os alunos tenham a experiência da criação. O fazer como aprendizado. Mas ressalta que o professor não deve exigir ou esperar que os filmes sejam narrativos, compreensíveis e bem acabados, pois é complexa a criação de uma história “com imagens e sons, decupagem, encenação, ritmos e significações” e demanda anos de maturação. (Bergala, 2008: p.175)

Ele ressalta a importância da experiência individual de cada aluno, em algum momento, já que na instituição escolar é normal haver divisões e papéis já formados. Esta oportunidade individual pode gerar autoconfiança nos alunos, e revelar habilidades até então desconhecidas, tanto para si, quanto para o grupo.

Perigos do storyboard

Em recente palestra no “Encontro de cinema e escola” em São Paulo (2011), Bergala afirmou desaprovar o uso de storyboard em sala de aula. Já no livro, ele defende que nenhum cineasta imagina primeiro uma cena em planos para depois visualizar o conjunto, mas sim o contrário, por isso submeter os alunos a desenharem o que planejam filmar seria inválido, porém ele cita uma experiência bem sucedida de composição planos com fotografias, para que os alunos pudessem visualizar e refletir sobre suas idéias, antes de executá-las, e neste sentido, não deixaria de ser uma forma de storyboard com uma diferença importante, desenhar é criar e depende de habilidades profissionais, que de fato, as crianças em maioria ainda não têm, mas com fotografias, elas estão compondo com o que já existe, e aí sim, pode ajudar a planejar e experimentar suas idéias antes de filmá-las. Ele diz que a máquina digital e  sua possibilidade de fotografar e manipular instantaneamente os resultados, observando e discutindo em grupo, tem “a vantagem de obrigar a pensar numa decupagem, e a se recolocar a cada imagem, a questão do ponto de vista, do eixo e da distância.” (Bergala, 2008: p. 194)

Sistematizando ‘a hipótese’

Após fazer este percurso na obra de Bergala, considero importante destacar os pontos principais de sua proposta que poderiam ser aplicados na prática em qualquer contexto escolar.

-Trabalhar com o cinema arte promovendo um encontro com a alteridade.
-Análise minuciosa de filmes ou trechos de filmes de arte a partir de um tema ou questão do cinema.
-Escola preservar um acervo de filmes alternativos aos de cinema de puro consumo.
-Organizar a possibilidade do encontro com os filmes (cineclube, cinema, sala de aula)
-Designar, iniciar, tornar-se passador (seleção de filmes sem desconsiderar o gosto pessoal)
-Aprender a freqüentar os filmes (rever os filmes, respeitando o tempo da criança)
-Tecer laços entre os filmes (relação cinema passado-presente)
-Decomposição de planos com fotografia digital
-Edição não-linear como oportunidade para repensar a criação.
-Alunos terem a oportunidade de criar algo individual e coletivamente
-Exercício: Minuto Lumiére  - resgate do primeiro cinema

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O que rolou no XV Encontro SOCINE 2011 - UFRJ?!

Resolvi compartilhar por aqui, algumas das apresentações que assisti, com alguns comentários e inquietações.  Foi muito importante participar desse evento para entender melhor como funcionam os GTs, e quem sabe no ano que vem, estarei lá novamente, apresentando alguma parte da minha pesquisa!! 

Achei o evento um pouco desorganizado (ninguém sabia dar informações corretamente), muitas mesas começavam atrasadas e MUITAS pessoas leram textos com linguagem completamente acadêmica (raras exceções), dificultando a compreensão e reduzindo as possibilidades de discussão. As apresentações às vezes contavam com mais participantes do que ouvintes. Houve pouco espaço pra discussão aberta e infelizmente as mesas sobre educação e cinema foram marcadas todas no mesmo horário, então tive que priorizar algumas, sem poder participar de todas as outras. Pareceu-me um evento fechado, com pouca divulgação e preocupado meramente com publicações oficiais, que irão rechear o currículo de quem apresentou, sem a menor preocupação em compartilhar tudo isso com a sociedade, afinal muitos desses estudos são financiados pelas universidades públicas, ou seja, pela população.

Ao mesmo tempo, sei que foi um evento que começou pequeno e foi crescendo, ainda deixando a desejar, mas mostrando alguns avanços.

A área de pesquisa em cinema e audiovisual ainda é pouco reconhecida, então é super importante compartilhar trabalhos, discutí-los e lutar por reconhecimento. 

Seguem então, alguns dos trabalhos, com foco maior nas pesquisas relacionadas à cinema e educação!

20/09/11 - Conferência de Abertura com Laura Mulvey – apresentada por Ismail Xavier

Título: Teoria do cinema feminista em tempos de mudança tecnológica: novas formas de espectatorialidade

Houve uma mudança acentuada no significado psicanalítico do espectador de cinema entre a era da película projetada no escuro a 24 quadros por segundo e a atual era digital. Nesta palestra Laura volta-se aos filmes do sistema de estúdios de Hollywood para discutir as maneiras pelas quais a capacidade do espectador de intervir no fluxo dos filmes tem afetado o desejo, a narrativa e o espetáculo cinematográficos. Uma reflexão sobre a mudança da “paisagem espectatorial” e suas implicações para as teorias do espectador.

Comentário: A conferência tinha tradução simultânea (cada pessoa usava um aparelho com fones), que em diversos momentos pecou na tradução, com demora para articular as falas e idéias de Laura. Ela iniciou sua fala sobre ‘prazer visual e cinema narrativo’, associando o tema do encontro este ano “Imaginários invisíveis” aos clichês (mulher-objeto; homem-herói), sendo possível encontrar algo de precioso, a partir das novas tecnologias disponíveis. (retardar e acelerar da imagem e interferência do espectador com o ‘poder do controle’) Laura disse que suas teorias escritas até então, perderam a relevância diante dessas novas tecnologias. É possível ver algo de performático, congelando uma imagem, como ela demonstra com Marilyn Monroe no filme “Os homens preferem as loiras” (1953), ao mesmo tempo, esse poder do espectador de controlar a velocidade da imagem, revelando uma outra figura e ação masculina, enfraquecendo o fluxo narrativo. Ela diz que o cinema de 24 quadros por segundo, não previa essa capacidade de controlar a imagem, revelando precisões que muitos mecanismos escondiam nas performances dos atores e atrizes.

21/09/11 – Sessões de comunicações individuais

Alunos fazendo e estudando cinema

Alita Villas Boas de Sá Rego (coordenadora) - Laborav: Audiovisual e colaboração na Periferia do Rio de Janeiro

Comentário: Alita inicia sua fala, colocando a situação dos estudantes de periferias, que não freqüentam o cinema, e são espectadores de televisão aberta, e às vezes dos DVDs piratas que circulam nas comunidades. Com a idéia de montar um cineclube, percebeu que sem formação de platéia, as salas ficavam vazias. Montou então o LABORAV (sua fonte de pesquisa), dispositivo para produção, projeto de extensão onde os alunos de graduação de baixa renda de Caxias – Baixada Fluminense (?), produzem vídeos (sem interferência de técnicos) com temas, como medo ou filmam com um plano só. O curso de pedagogia tem uma estrutura completa montada, com webtv, rádio, etc. Os alunos criaram programas como “Quem cala, consente”, onde entrevistam estátuas, e o “Voz Urbana”, onde a câmera filma um palanque onde as pessoas falam o que quiserem. Ela também constatou, que é natural a reprodução de clichês nas produções dos alunos, ainda que tenham abertura e oportunidade de fazer o que quiserem. E agora, com o projeto consolidado, o cineclube já tem platéia e grupos de estudos teóricos.

Mariana Porto de Queiroz - Escola engenho: criação de uma escola de cinema pra crianças no Recife

Comentário: Mariana inscreveu seu projeto num edital do estado e sendo aprovado, iniciou seus trabalhos numa escola de cinema, que acabou se ampliando com o passar do tempo. Seu público são 20 crianças de 6 a 12 anos da periferia do Recife, que não vão ao cinema (equivalente a fala de Alita) A idéia era formação de platéia, para implementar cineclube e ampliar o repertório dos alunos, e formando vínculo com a comunidade. Ela chamou 6 realizadores de audiovisual (foco na prática) para colaborar com a formação dos alunos, sem terem qualquer experiência pedagógica, tendo que adaptar suas metodologias para aquele contexto. Os oficineiros tem aulas e diários, como forma de debaterem sobre sua própria formação e experiência com os alunos, procurando sempre melhorias. Também falou do uso de clichês e a tentativa do grupo de libertar a criatividade dos alunos. Comentou ainda do choque cultural entre os oficineiros e alunos, com visões e realidades tão diferentes, onde a escola passou a aceitar o que eles traziam, trabalhando em cima desse repertório. Os alunos tem alunas de técnicas, mas também der discussões, fazendo visitas em museus, intervenções na comunidade, projeções nas ruas, além de trabalhos para estimular a concetração e valores importantes no mundo cinematográfico. O projeto então tem esse aspecto de transformação social, envolvendo toda comunidade. Uma das bases teóricas vem de Deleuze, onde a experimentação é uma forma de adquirir conhecimento, aprendendo com os erros.

Marcos Magalhães - Animação espontânea – Criação e aprendizado na linguagem de animação.

Comentário: Marcos focou sua apresentação na relação da história da animação com o cinema, mostrando diversas experimentações suas e de outros. Deu aula no curso de Design, que tem como ponto em comum com a animação, a manipulação do que está entre imagens. Desde o princípio da humanidade, havia uma tentativa de dar movimento aos desenhos, com a arte rupestre, na tentativa de contar uma história. Foi a animação que originou o cinema, mas com o tempo, ocorreu um deslocamento entre os dois, como se fossem coisas diferentes. Ele cita dois tipos de animação, “contínua” (um desenho depois do outro) e “com posições chaves” (ação gradativa). Marcos trabalha no Animamundi (existe há 10 anos) e oferece oficinas, onde ajuda na formação de professores e uso da animação em sala de aula com crianças. E com o debate aberto, mais uma vez foi dito que o contato com audiovisual promove transformações sociais, onde a ênfase deve ser na prática, valorizando a experimentação e a capacidade de sair do lugar-comum.

Alexandre Buccini - Cinema na Escola - A hora dos alunos “fazerem” cinema documentário

Comentário: Alexandre é professor de universidade e de geografia no Ensino Médio de uma escola de classe alta de São Paulo. Ele sabe que há estudos sobre o uso de cinema, mas encontrou poucas referências com foco na prática. (cinema como linguagem) Sua curiosidade em saber qual é a formação do público de classe alta, originou sua pesquisa de doutorado. Percebeu que os alunos tinham uma visão de mundo muito conservadora (homofobia, exclusão social) e um equivocado julgamento do seu próprio contexto histórico. Iniciou um projeto na disciplina de geografia, com produção de documentário, feita pelos alunos, com exibição no festival da escola no final do ano. E diz que esse pensamento conservador passou a ser desconstruído na medida em que os alunos precisavam pesquisar e entrar em contato com os temas dos documentários.

Painéis

Imaginário e alteridade

Aldenira Mota do Nascimento - CINEMA E EDUCAÇÃO: uma reflexão sobre a produção audiovisual na escola

Comentário: Aldenira é professora assistente (acompanhamento de escola em tempo integral) de uma escola particular do Rio e trabalha com o 8º ano. Com a rivalidade entre os alunos, buscou no cinema uma forma de promover discussões em temas como democracia. Ela não tinha formação e faltava equipamento, mas buscou parceiros e técnicos para ajudar no seu projeto. Tem como referência Alain Bergala, Rosália Duarte e Mônica Fantin. Ela exibiu um vídeo de seus alunos e percebi que não há critério estético com suas produções. Plano parado, sem composição, representação equivalente ao teatro (de mentirinha). Essa experiência é seu ponto de partida da pesquisa de mestrado.

Anderson Silva Vieira - Timor-Leste, cinema e a invenção do Nós

Comentário: O tema não me interessa muito, mas Anderson falou de como o Timor-Leste tem utilizado o audiovisual por uma busca de identidade, na tentativa de resgatar sua história. O uso de documentário é o mais freqüente, e a estrutura ainda é carente. O público consumidor de cinema ainda está em formação.
   
Mirian Ou - O filme-família, Hollywood e o imaginário internacional-popular

Comentário: Mirian tem como foco de pesquisa, filmes-família, que tem o objetivo de atingir um público amplo. Percebeu que os filmes-família são os que ocupam as posições de maior bilheteria. Senti falta de ela falar sobre a narrativa clássica hollywoodiana associado ao lúdico. Ela listou algumas características dos filmes-família que se apresentam justamente nessa relação. Personagens-animais, universos fantasiosos, imagem família (dois adultos e duas crianças), etc. Ela também comentou que são filmes que se projetam para outras áreas do mercado. Também senti falta de ela comentar sobre narrativa transmídia, que não é exatamente o caso, mas tem foco na continuidade do produto cinematográfico.

Seminários temáticos

TV: formas audiovisuais de ficção e documentário

Beatriz Becker - No Estranho Planeta dos Seres Audiovisuais: TV e Educação

Comentário: Beatriz inicia sua fala com a recorrência de discursos que subestimam o repertório e potencial dos alunos. A pergunta “Como a educação pode compreender a mídia e viceversa?” levou-a a um estudo de caso do programa “No Estranho Planeta dos Seres Audiovisuais”, com direção de Cao Hambúrguer, com duração de 16 episódios na TV FUTURA. Em parceria com outro pesquisador, apresentaram sua pesquisa em forma de um pequeno documentário, buscando fazer uma leitura crítica a partir da narrativa, temática, som, edição, etc. O documentário apresenta comentários críticos a partir de exemplos mostrados. Eles acreditam que o programa ajuda a desconstruir os códigos de linguagem da televisão, além de técnicas de animação, mistura personagens fictícios e entrevistas com profissionais da área do cinema e do audiovisual. Apelam para o cômico, ‘brincando’ com a idéia de um espectador passivo, retratada de forma ‘caricaturizada’. E a partir desta leitura crítica, conclui que a TV é sim um espaço de aprendizagem, utilizando este programa como exemplo.

Sessões de comunicações individuais

TECNO-LOGIAS

Maria Helena Braga e Vaz da Costa - Cinema, Tecnologia, Arte: Uma visão crítica sobre a cor no cinema

Comentário: Mª Helena é do Rio Grande do Norte e iniciou sua fala fazendo um mapeamento sobra a introdução das tecnologias no cinema, com foco específico sobre a cor. Ela disse que a cor no cinema, causou impactos econômicos e sociais. Apresentou 4 principais teorias sobre a introdução da cor nos filmes, com as seguintes justificativas (resumo meu): 1. Uso da cor para dar um senso maior de realidade; 2. Para aumentar a possibilidade de criação de novos gêneros; 3. Uma nova forma de lucrar, atraindo o público; 4. Potencializar efeitos dramáticos. E em seguida, ela apresenta suas contraposições: 1. A cor quando introduzida foi utilizada muito mais para experimentos estéticos não-realistas; Ela diz que quando o som surgiu, imediatamente os modos de fazer filmes foram interrompidos e inovados, mas com a introdução da cor, demorou certo tempo para ser incorporada. Somente assumiu ‘seu posto’ na década de 60, para competir com a TV a cores. E a cor era muito associada à fantasia. 2. Mª Helena mostrou um trecho do filme preto&branco ‘Jezebel’ (1938), para exemplificar o uso do contraste claro/escuro (debutante que utiliza vestido ‘vermelho’, se destacando das demais) já incorporado antes da utilização da cor. O realismo não estaria associado a presença da cor, pois outros elementos cumpriam esse papel. 4. Ela nos mostra um trecho de ‘Um corpo que cai’ (1964) com utilização da cor na parede associada ao personagem e ‘Marnie’ (1964) (os dois de Hitchcock) close na bolsa branca da personagem cleptomaníaca. Com isto, ela diz que a cor destaca também elementos, além dos efeitos dramáticos. O filme preto&branco passa a ser uma opção estética, assim como foi os filmes mudos. Ex.: “A lista de Schindler”, ausência da cor para contextualizar um momento histórico, mas uso do vestido vermelho para efeito dramático e deixar o espectador atento.
Mª Helena diz que a adoção de uma nova tecnologia sempre proporciona novos experimentos. E lembra que nos anos 80 foi muito comum colorizar filmes realizados em preto&branco para atrair o público a assistir filmes antigos. Eu coloco a questão do cinema 3D de alta resolução como um terceiro grande marco, e a mesa (outros participantes) acham possível que seja, mas ‘é ver para crer’! Diferente da som, a cor foi melhor aceita por apontar maiores possibilidades de criação e experimentação.

22/09/11 – Mesas temáticas

Ajudando a dar rosto ao futuro: o cinema como espaço de reflexão e transformação

Maria Cristina Miranda da Silva - Cinema e educação - uma experiência de reinvenção

Comentário: Maria comenta sobre a pedagogia godardiana, considerando o cinema como experiência artística, espaço de aprendizado e contribuição para formação de professor. Traz inquietações como “Como ensinar cinema?”; “Como fazer cinema como arte?”; “Como trabalhar o gosto pelo cinema de arte”. Ela cita Godard, que acredita na necessidade de ‘despertar o olhar’ do espectador. E gostar de cinema,  já seria uma forma de aprender a  fazer cinema. Ele diz que aprendeu muito assistindo filmes na sua juventude e isso o ajudou em suas criações fílmicas. Com isto, Maria ressalta a importância de cinematecas (acervos) e dos cineclubes (espaço de exibição e discussão de filmes) e acredita no cinema como instância educativa, sendo a linguagem audiovisual (cinema ampliado) de extrema importância nas escolas. Ela apresenta alguns pontos para pensar o cinema hoje: 1. Considerar o primeiro cinema e sua relação com o cinema de atrações e espetáculos, através de re-criações. 2. Considerar o cinema narrativo clássico (Griffith) como forma de espetáculo de massa e pensar nas possibilidades diferentes das narrativas. 3. União do cinema e das novas tecnologias (ex.: livecinema) e o artista que reinventa a arte. (Arlindo Machado) Ela cita novamente Godard, sobre aquilo que é visível no cinema e o invisível que é visto através do visível. Para isso é preciso um olhar sensível, como espectador e realizador, no contexto educativo, um ensinar a aprender, ampliar o campo de visão, descrever com a câmera, inverter teoria-prática para uma prática-teoria. No campo da educação é preciso estimular a decupagem das imagens, além da busca em experimentar e reinventar o cinema.

José de Sousa Miguel Lopes - O Conformista: conflitos políticos e morais sob o manto do autoritarismo

Comentário: Esta apresentação não me interessou muito, mas algumas colocações foram pertinentes. José discursou sobre o filme “O conformista” e falou sobre o uso do cinema, de filmes como alegorias políticas. Diz que a educação deve contribuir para a autonomia do sujeito de decidir o rumo de sua vida. (Emancipação de Kant?) E que qualquer autoritarismo aniquila qualquer possibilidade de autonomia.
  
Selma Tavares Rebello – O Debate no Cineclube da UFRJ numa Perspectiva de Releitura da Prática

Comentário: Selma fala da importância do Cineclube (aprendizagem não-formal), que é um espaço que possibilita contato com a arte e discussão a partir de questionamentos e inquietações sobre o filme, e que a partir dele (experiência na UFRJ com foco em alunos da Pedagogia e da graduação em geral), com temáticas sobre educação, é possível provocar releituras na prática pedagógica e leituras críticas dos filmes. Para o debate ser ainda mais rico, o cineclube conta com a presença de professores e cineastas e suas respectivas contribuições. Ela considera a arte uma ‘forma de representar os sentimentos do mundo’, não pretende ensinar nada, mas apresentar. Considerando o espaço único e limitado, os critérios de escolha dos filmes é rigoroso, com foco em filmes que fogem do padrão comercial. Ela traz as seguintes inquietações “É possível mudar alguma visão de mundo a partir da prática de ver filmes?!”; Ou ainda, “promover notas leituras sobre educação?”; “O que fazemos? Para quê e para quem?! Neste sentido, é importante impregnar no pensamento pedagógico a arte, experiência dos sentidos, o olhar do outro a partir do nosso e entender o espaço do cineclube, como um lugar para o ato criativo. Ela cita suas referências (Alain Bergala, Rosália Duarte, Ismail Xavier, Arlindo Machado e Bordieu) e diz que a competência para ver filmes não se restringe em apenas assistir filmes, é preciso discuti-los, problematizá-los.

Debate: Após as apresentações, foi iniciado um debate a partir das questões dos participantes ouvintes. E José diz que ‘ver um filme e não discuti-lo é destruir todo seu potencial educativo’. Todos os três defenderam a exclusão do cinema comercial em sala de aula ou nos cineclubes, para valorizar o tempo com obras artísticas, privilegiando a diversidade, a partir de filmes de pouco e difícil acesso. Eu me pergunto se isso não é um certo autoritarismo, impor somente um determinado tipo de cinema para contrapor com o repertório supostamente já formado com cinema comercial, contradizendo a fala anterior de José. Ele também comenta sobre o professor-herói caracterizado nos filmes hollywoodianos, em contraste com o professor do filme “Entre os muros da escola”. Falou que o cinema hollywoodiano não é a mesma coisa que cinema norte-americano. Foi aí que levantei a seguinte questão: “Se no espaço da escola só se deve discutir um ‘outro’ cinema, qual seria então o espaço para discutir o repertório que eles já carregam?! Apresentar um ‘outro’ cinema é suficiente para dar conta?! Não deveria haver discussão nos dois casos, ressaltando justamente as diferenças?!’ Como julgar um filme de arte?! Como aproveitar o repertório?! Porque exibir só o que é de vanguarda?! Não existe uma questão de gosto também, muito pessoal?! Um ver ‘além’ não se aplica a qualquer pessoa, pois nem todos dos filmes permitem ‘ver’ além, só por se pretenderem para tal, vai depender da experiência pessoal e relação de cada pessoa com o filme.

Seminários temáticos

TV: formas audiovisuais de ficção e documentário

Arlindo Ribeiro Machado Neto - A Morte da Televisão segundo Lost

Comentário: Arlindo exemplificou características e desdobramentos do seriado Lost como uma forma de narrativa transmídia bem sucedida na televisão. (Partindo do conceito de Henry Jenkins, que exemplificou ‘Matrix’ no caso do cinema). Lost revolucionou a forma de se fazer televisão, criando espaços parelelos à narrativa seriada, como jogos, enigmas para serem desvendados em pistas espalhadas em programações, cartazes, produtos, etc. Nesse sentido, interromper uma temporada, não significava o desligamento temporário dos fãs, durante o período de pausa, as experiências e enigmas continuavam. Tudo isso provoca uma excitação, uma atração, para um espectador que se recusa a ser passivo e passa a ser ativo e participante. Como o próprio Jenkis diz, tudo isso tem uma relação com mercado e marketing, mas é um fenômeno que fez a TV morrer e renascer de uma outra forma.

Eduardo Tulio Baggio e João Carlos Massarolo também fizeram apresentações, mas as considerei irrelevantes diante do que já havia sido falado. Apenas destaco que a TV passa por um processo de transformação, na qual a necessidade de criação de universos se faz necessária. Universos onde o espectador possa participar ativamente, produzir e consumir conhecimento e informação.

No contexto brasileiro, Arlindo Machado diz que a TV Globo é ainda muito conservadora, mas o programa-novelinha Malhação se apresenta como uma tentativa de narrativa transmídia, com vídeos paralelos em sites (início em 2009), opções de personalização e agora com perfis dos personagens no twitter.

23/09/11 – SESSÕES DE COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

ENCONTROS ENTRE AUDIOVISUAL E DOCÊNCIA

Inês Assunção de Castro Teixeira (coordenadora) - Sob a “Câmera de Nestor Canclini”: ancoragem para encontros entre cinema e docência

Comentário: Inês é fundadora da rede Kinos e apresentou um panorama sobre o autor Canclini (vida e obras, olhar para América Latina) e citou 4 pontos de partida no contexto da educação. 1. Formação de professores com foco no estímulo às questões éticas, estéticas, poéticas, intelectuais, etc. 2. Quebra de dicotomias e pensar de forma mais experimental, típico do campo da arte, mais distante da ciência. ‘hibridização’. 3. Pensar o mundo contemporâneo para além do mundo, considerando a arte como possibilidade de iminência, deixar acontecer, deixar chegar e como possibilidade de criação do inexistente. 4. Considerar a arte como construção social, entre relações sociais, dentro de um mercado. Cidadania também envolve consumo, cabe se perguntar “Qual consumo?” Ela encerra dizendo que o cinema pode ajudar a trabalhar a sensibilidade dos professores.

Ana Paula Nunes - Metodologias de quadro a quadro

Comentário: Ana tem formação em cinema e audiovisual e participa de um projeto de extensão chamado ‘quadro a quadro’, fazendo referência ao quadro de uma sala de aula e quadro de uma sala de cinema. Ela inicia a fala, dizendo que a pesquisa sobre cinema ainda precisa de reconhecimento, pois ainda não está inserido nos currículos educacionais. (Fernão Ramos considera o cinema uma área do conhecimento). Ela diz que pouco se pensa sobre metodologias possíveis (fugindo de ‘receitas’ aplicadas na sala de aula). Falta uma normatização dessas experiências. Cita 2 linhas de pensamento, entendendo o cinema como arte e comunicação: educomunicação e  arteducação. (Mídia-educação NADA!!) Na educomunicação se considera a pedagogia da linguagem total. Na arteducação, com referência em Alain Bergala, considera o cinema como arte. Ela coloca aproximações e diferenças entre estas duas linhas de pensamento. Diz que existem longas experiências que não são sistematizadas, resultando sempre em recomeços. Cita Paulo Freire, saber como prática, onde as atividades dos alunos se baseiam em compromissos voluntários. Logo depois coloca algumas propostas. 1. 5 pistas para trabalhar o cinema, além do rádio, TV e cinema, considerando as palavras, imagens, sons (voz, ruído e música). Fala de uma aproximação com a cultura popular. 2. A partir de Bergala, outra proposta envolve uma análise criativa e crítica. Foco na percepção, intuição, criatividade, reflexão. Bergala diz que a verdadeira reflexão nasce da prática. E propõe ainda que o processo de leitura crítica se inicie com imagens fixas, para depois trabalhar as imagens móveis. Porém Ana diz que a visão de Bergala é muito radical, pois ele considera a televisão e os produtos de consumo uma ‘miséria’ e quem os utiliza em sala de aula é um ‘traidor’.

Paulo Roberto Montanaro - A transmídia e a busca de uma nova linguagem audiovisual para EaD

Comentário: Paulo contextualizou o que seria uma narrativa transmídia e disse que até agora ela só foi aplicada em bens de consumo. Sua pesquisa parte de inquietações de como aproveitar a narrativa transmídia no contexto educativo, com foco em EAD, que utiliza o audiovisual como material pedagógico e instrucional. Paula ressalta a importância de criar vídeos atrativos e dinâmicos, pois a monotonia dificulta a apreensão do conteúdo e causa desinteresse. Ele diz que os vídeos produzidos para EAD não são ficção e nem documentário, por isso é preciso formular uma nova linguagem para essa área. Cita Vygotsky para ressaltar a importância do diálogo e de alguém que pensa na educação com participação ativa. Após sua fala, comentei do Projeto do LANTEC, Eproinfo que poderia ser considerado um projeto inovador de narrativa transmídia no contexto educativo, voltado para EAD. Citei o ‘conceito’ (não sei ao certo) de estudos autônomos, que eles evocam no projeto. O projeto ainda está em construção e será implementado no Portal do Professor, para ajudá-lo a fazer uso das mídias, como usuário e professor, utilizando diversas plataformas como suporte pedagógico, como criação de blogs, pesquisa na internet, elaboração de textos, acesso à vídeos em diversos canais, etc.

PRODUÇÃO CASEIRA E RECEPÇÃO NO ESPAÇO VIRTUAL

Lígia Azevedo Diogo - Vídeos de família analógicos: a produção doméstica pré-YouTube

Comentário: Lígia faz uma apresentação sobre sua pesquisa se mestrado, relacionando imagens de família de vídeos analógicos com as produções domésticas do youtube. Comenta sobre a falta de pesquisa sobre o assunto e na despreocupação em preservar este material. Porém senti falta da relação com a história do cinema, que apresenta no início de sua história, registros familiares, hoje considerados relevantes e históricos, além de não ter falado da atual digitalização dos vídeos analógicos.