quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O papel do mestre e do ensino em Agostinho e Tomás de Aquino – regar a semente

(sobre textos já lidos, para próxima aula de Teorias da Educação - 15/09/10)

Livro: "Introdução à Filosofia da Educação - Temas contemporâneos e História" - vários autores - organizado por Pedro Angelo Pagni e Divino José da Silva - R$41,00 em 3x (porque "mestrar" custa caro e livro é pra sempre!)

Texto: Parte 2 - "A filosofia, o papel do mestre e a educação humana: Retrato do pensamento medieval e renascentista"

Capítulo 4: "Sobre o papel do mestre e do ensino em Agostinho e Tomás de Aquino" por Marcos Roberto Leite da Silva

Detalhe: grifos com caneta fluorescente azul e asteriscos nas partes importantes.

Vou falar das partes importantes. (ou dos asteriscos)

Segundo Silva, "os autores foram escolhidos pelo critério de importância nos respectivos momentos históricos." Agostinho, por fazer parte da era Medieval, com o intuito de estender o cristianismo. E Tomás, num período de efervescência intelectual, no intuito de pacificar a inquietação juvenil. (tocada por novos conhecimentos, diante da cristandade). O nascimento da escola? Talvez.

Agostinho então pretendia evangelizar a sociedade. Pretendia conciliar fé e razão, sem associar o aprendizado à violência, coisa que foi submetido a fazer em sua juventude. Aparentemente contrário aos castigos e crueldades impostas para aprender o grego e suas fábulas, Agostinho via nas palavras em latim das amas (escravas?) o verdadeiro aprendizado. Não porque não era obrigado, mas porque dispunha sem pressão aos ouvidos, tais palavras e assim, depositava suas próprias impressões. Aqui, reside a reflexão pessoal? Depósito de repertório único? Escolha do caminho?


"Nesse ambiente, diz Silva, pensar o conhecimento é pensar um despertar humanizador das verdades divinas aos quais todo homem pode aceder. A alma do homem é o verbo e Deus é a luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo", portanto assim como em Platão, aprender é recordar, mas não a partir do mundo das ideias, e sim do despertar do intelecto para os conteúdos da iluminação divina. Despertar o saber. Então, assim como Deus, que se comunica com as palavras certas, deve o educador discernir a palavra adequada. Deve despertar o saber no aprendiz, no aluno. (de novo, promover a reflexão?) Mas saber que reside no bom e no belo, portanto na verdade.


O educador deve conhecer seu alcance e sua estrutura para optar pela palavra em sua ação educativa. O educador deve deixar vir?


Entre tantos asteriscos azuis grifados no texto, recortes soltos - como letras aleatórias em sopa de letrinhas - se unem e ganham novo sentido num novo contexto. Estava eu aqui citando, recortando o texto e minha escrita preferiu soltar-se. Citando Agostinho só consigo pensar em questões atuais e como sua visão sobre educação, é atual, ainda que voltada para o cristianismo. O autor vê isso e eu também vejo.


Passagens como "é interiormente que o conhecimento se processa" só reforça a ideia de semear o conhecimento no aluno. Não plantar, mas semear. Não abrir um buraco e jogar uma planta pronta, virtuosa, do nosso jardim docente, mas depositar uma sementinha e regar, esperando, torcendo para que ela floresça. O esforço é maior. Regar, proteger do vento, do sol, das pragas. Ter paciência, fé, esperança. É frustrante, mas é possível.


Agostinho defende a paixão do educador, a pouca fala, a melhoria da exposição, a centralidade do e no aluno, a formação do educador, o material a ser usado e o lado sensível, associado ao bom e belo de Platão, mas principalmente ao lado onde reside Deus, o cristianismo, a fé. E somente semeado, o saber é despertado. Tendo conhecimento, a vida humana torna-se virtuosa, boa e bela. Pois a iluminação divina se dá no intelecto. Aqui vale questionar, o conhecimento é sempre bom e belo?


O conhecimento não dá poder? Não é com ele que os fortes oprimem os fracos? Não é na ignorância que os povos são manipulados e controlados? O grande problema da sociedade não é a falta de uma educação de qualidade?


Estes questionamentos fazem-me pensar em como as reflexões, colocações de Agostinho, na visão de Silva, reforçam o papel do educador de semear. De fato, o conhecimento ilumina, mas é de fato onde reside somente o bom e o belo?


Se todos tivessem o mesmo nível de conhecimento, talvez não existisse a injustiça. Pois não existiria minoria e nem maioria. Se todos se unissem para lutar pelos seus direitos, fizessem uso das armas e técnicas, depusessem um governante mal intencionado, talvez não existisse injustiça. Mas sem injustiça não haveria revolta, pois a injustiça ocorreria com o governante mal intencionado, que já não poderia existir se todos tivessem o mesmo nível de conhecimento.


O nível de conhecimento estaria então associado à idade? O bom e belo seria adquirido com o passar dos anos como aprendiz? É bom e belo o mais velho? O educador?


Parece mais complicado analisar dessa forma. Surgem mais perguntas que respostas. Que bom então. Parece-me então que o papel do educador é contínuo. Semear. Não plantar. Sem começo, nem fim. Apenas meio. Onde habita o amor, palavra que une aquilo que é divino ao que é humano.


Diante da minha inquietação, trago reflexões sobre Santo Tomás, pois foi na inquietação juvenil de sua época, que se reconheceu a necessidade de critérios mais racionais para se aceitar a fé. Pode o homem ensinar e ser mestre, ou só Deus? Pode alguém ser chamado “o seu próprio mestre”? Pode o homem ser ensinado pelo anjo? É ensinar função da vida ativa ou da contemplativa?


Na visão de Silva, São Tomás associa o conhecimento intelectual à experiência sensível. O conhecimento está fora de nós e não dentro. Ou seja, não precisa ser despertado. E sim, percebido. Ou seja, é o intelecto que deve ser despertado, o lado sensível, para perceber o conhecimento que está disponível. A experiência produz o conhecimento. Seria dever do mestre, do educador, estimular potencialidades no aprendiz por própria vontade e empenho. Pois todo homem, pode desenvolver, por si mesmo, suas potências. Aqui vale comentar sobre as experiências práticas de Artes na escola. Não é porque o aluno não é estimulado a desenhar que não possa desenvolver individualmente essa habilidade. São vários os casos de crianças que se tornam habilidosos adultos desenhistas, por vontade própria, sem ter tido qualquer estímulo na escola. Mas quando feito na escola, é ainda melhor. Ou alcança uma fatia maior de jovens criativos.


Cabe colocar, segundo Silva, “que o homem não pode ensinar de modo perfeito a si próprio, mas possui excelentes meio de aprender, com o auxílio dos mestres”. Como é o caso dos adultos habilidosos desenhistas que citei anteriormente, que procuram em outros meios, aprimorar técnicas de desenhos, quando não estimuladas nas escolas. Fazendo cursos paralelos, observando técnicas diferentes, cursando faculdades de formação específica e encontrando em outros meios, mestres. “O homem não pode ensinar a si próprio, mas é aluno eficiente, capaz de conhecer.” Dito isto, parece realmente possível o homem ensinar, ser mestre e ser seu próprio mestre.


O homem teria então uma potencialidade ativa para conhecer, derivada de uma unidade do ser. O ser é também pensar e querer. Não é estático, mas autopresença. Aprender então é uma atividade própria do ser. Atividade peculiar do aluno. “O professor é alguém que aproxima ou desperta, no aprendiz, o interesse, enquanto o ajuda por experiência a evitar os desvios de uma ciência menos perfeita”. O aluno é o ser ativo, centro do sistema educativo. Não bastam palavras, é necessário sentido a partir da experiência pessoal. O aluno precisa se interessar e experimentar para aprender.


Ao meu ver, o encontro entre Agostinho e São Tomás não é contraditório, mas complementar. Para um, o conhecimento é interior, e cabe ao mestre despertar este conhecimento no aluno, por vontade própria, considerando suas condições particulares e individuais (estaria aqui a diferença entre os seres e a impossibilidade da justiça absoluta?). E para o outro, o conhecimento é despertado de forma ativa pelo aluno. Ele participa do processo de ensino-aprendizagem, e também cabe ao professor orientar, conduzir, despertar as habilidades e potencialidades do aluno para o saber, para o conhecimento. A palavra não é suficiente, é necessário vivenciar, experimentar.

Um comentário:

  1. Acredito que o homem, como um ser diversificado, cada um dotado de personalidade, formada por genes e pelo meio aonde convive, terá interesses ou não ao longo de sua vida. De fato, pode ser que somente através de um "mestre" ele desperte para algo na vida, não sendo tão somente uma pessoa que aprenderá para sobreviver.
    Explico-me. Se uma pessoa não tiver despertado seu dom, ou não tiver se encontrado, não tiver sido orientado para o que fará de maneira melhor, será uma pessoa comum, que aprenderá o que lhe convier, no momento que lhe convier, para que sobreviva, talvez sem qualquer brilho, sem qualquer destaque.
    OU, através de seu mestre, ou até mesmo sozinho, desperte, seu dom, aquilo que lhe foi reservado e que fará de maneira melhor em sua vida.
    Portanto, como dito, o meste é sim, e sempre será um meio e nunca o fim. Talvez a inveja e sentimentos menores possam podar alguns talentos, eis que, por ser uma constante evolução, o conhecimento pode ser transposto, ultrapassado, o que causa, em alguns mestres, os sentimentos acima mencionados.
    Concordo, portanto, que o conhecimento pode se dar das formas proposta por Tomás e Agostinho, com uma predeterminação do indivíduo.

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