sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Quero falar da palestra

Espiei o relógio. 2:26. Escrevo ou não escrevo? Durmo ou não durmo?
Droga. Eu amo/odeio a madrugada. Melhor horário pra "internetar", escrever, pensar, ver filmes...e justamente o horário que eu deveria dormir. Droga. Mas estou tão motivada que tentarei escrever assim mesmo. Meio cansadinha, mas com insônia típica. (talvez seja o medicamento)
A tosse recuou, mas os olhos estão meio ardidos.
Vou pegar meu caderno e relembrar da palestra ainda fresca que assisti ontem.
(pausa para pegar o caderno) (pausa para lembrar da Gilka no texto do post passado, falando do exercício que ela faz com os alunos de escrever sem parar, sem corrigir ou pensar. Deixar o texto fluir. É isto que estou fazendo, deixando o texto fluir. É gostoso! - pausa para pegar o caderno, agora de verdade).
Abri na página de gastos do mestrado. Isso me fez lembrar do quanto preciso arranjar uma bolsa de trabalho na UFSC, porque sem uma fica difícil se concentrar. Estudar sem bolsa é foda. Gasto com xérox, livro, transporte, alimentação e até eventos. Gasto com o exame de proficiência, taxas, etc e tal. Às vezes me pergunto se só os afortunados fazem mestrado, porque mesmo a bolsa é bem mirradinha, se a pessoa tem família e a renda é comprometida.
Não estou desempregada (mesmo tendo escolhido sair de um emprego bom para fazer o mestrado porque os dois não eram compatíveis), mas as 4 horas/aula na escola são insuficentes para tantos custos. (obviamente também tem remédios, luxinhos, e filmessss hehehe porque uma bacharel em cinema que se prese tem acervo pessoal e freqüenta o cinema sempre que pode).
Voltando ao caderno.
Escrevi "Palestra de Cristina Ponte". E o assunto era (se não me engano) o projeto EUKids (Eu de Europa) com o primeiro slide no telão entitulado "Pesquisando idades e gerações. Representações do uso das mídias". O título era promissor, mas o assunto era mais específico que isso.
Não lembro agora como a palestra estava descrita no e-mail da minha orientadora e professora Mônica, mas sabia que era algo sobre mídia-educação. Curiosamente a palestra era no mesmo horário da minha aula de Teorias da Educação. 9h de quarta-feira. 25 de agosto (chequei agora no calendário).
Sem saber se a turma seria dispensada, enviei um e-mail para a professora Lúcia com essa dúvida e salientando que faltaria a aula para ir a palestra, caso não houvesse dispensa. Não obtive resposta nem dela e nem da Mônica. Fui mesmo assim.
Nessas horas acho o Mestrado confuso. Falta comunicação, troca, diálogo. Mas outro dia entro nesta questão.
Sabia que a palestra seria em algum lugar no NDI na UFSC. NDI é o Núcleo de Desenvolvimento Infantil. Já ouvi falar na Sepex, mas nem imaginava onde ficava, ou pelo menos sabia que era próximo ao CED - Centro de Ciência da Educação.
Localizado a placa, direcionei-me para o NDI e fiquei surpresa ao me deparar com um parquinho infantil e escola. Estudo na UFSC desde 2003, fora as visitinhas anteriores com minha mãe e pela escola e nem imaginava aquele universo colorido por trás dos prédios.
Questionei-me quantos lugares da UFSC são desconhecidos pra mim? Que ilha eu sou!
Chegando lá, 8h30. Encontrei o Gilson, colega da mesma linha de pesquisa ECO e da turma 2010 também. Digo o ano porque depois chegou um colega da turma ECO 2009. (não me recordo o nome agora, só lembro que quando ele falou parecia ter sotaque espanhol, mas era gaúcho. Engano meu e de outras pessoas, segundo ele).
Antes do colega 2009 chegar, conversei com o Gilson sobre muitas coisas. Sobre a indisposição da coordenação da pós em ceder informações, alegando que haveria uma reunião específica pra isso. Falamos sobre os custos sem a bolsa. Ele é do Espírito Santo. E concordamos com as patotas presentes, da qual não fazemos parte e nem imagino o porquê elas já existem.
Falamos dos nossos projetos. Das disciplinas. E quando o colega 2009 chegou, já estava na hora de ir para o auditório.
Espaçoso, bem equipado (com datashow e telão) e com murais coloridos. Olhei rapidamente e pensei "Nossa! Quantos espaços equipados existem na UFSC!". Pensei isso porque só costumava freqüentar os do CCE - Centro de Comunicação e Expressão. Centro onde cursei cinema e parte do curso de Design (quando era apenas gráfico e quando ainda se chamava curso comunicação e expressão visual - CEV).
Enfim..estoum e enrolando...
Segundo meus rascunhos (escrevo bastante quando os comentários me interessam) a palestrante, de origem portuguesa (com português de Portugal mesmo) hehe, falou sobre a pesquisa EUKids, que levantou dados de 2006 a 2009 sobre o uso da internet feito por crianças e adolescentes (coisa assim), a influência da formação e poder aquisitivo dos pais nesse uso. O número crescente de crianças cada vez mais novas fazendo uso da internet e os riscos e oportunidades trazidos por esse uso. Quando realmente existe o risco e se ele é de fato traumático, no caso da pornografia, pedofilia, violência, etc.?
E com todo este assunto, quando tive oportunidade fiz uma colocação para a palestrante.
A partir do comentário dela de que a experiência da internet é um risco, instigou-me a pensar sobre o festival de cinema de uma escola de Fpolis que fui nesta semana e dos vídeos produzidos pelos meus alunos, enquanto reflexo de construção de valores e sujeito. Comentei que as crianças reproduzem aquilo que assistem e pela experiência prática (ainda que pequena) eles têm visto coisas impróprias para a idade, justamente por exigir uma formação crítica que ainda não têm.
Como eles não têm, acabam reproduzindo somente a superfície, como a violência gratuita, conceitos distorcidos, que necessitam de uma mediação que às vezes não ocorre, ou é difícil de ocorrer, pelo desafio da simples condução ou reflexão.
Comentei que hoje parece impossível controlar o conteúdo, mas que talvez, esperando que eles tragam o repertório deles, seja possível identificar o que exatamente precisa ser mediado, para se pensar como pode ser mediado e quando deve ser mediado.
Enfim...coloquei isso de uma forma diferente e ela concordou, acrescentou, outros participantes acrescentaram também. As crianças e adolescentes tem de fato autonomia para criar algo de forma crítica, se ainda não tem essa formação?
Qual o papel da escola, já que os pais acabam não mediando esse conteúdo?
E o professor? O educador?
Obviamente estou acrescentando minhas impressões de antes e de agora ao escrever este texto.
Mas a discussão da palestra acabou tomando esse rumo. Se antes era sobre uma pesquisa, passamos a falar da dificuldade dos pais e professores a saberem fazer uso das mídias na escola. Eu mesma comentei, porque proibir o celular, quando ele pode ser usado como ferramenta de ensino, deixando de ser um mero objeto de status e lazer. Penso assim para o laptop, câmera fotográfica, internet, etc.
A discussão foi produtiva. Parei de escrever no caderno e me concentrei mais nos depoimentos, questionamentos.
Mais uma vez senti segurança. Mais uma vez senti certeza do meu trabalho.
Devo estar no caminho certo. Não estou viajando na maionese.
Mas mais uma vez não consegui falar com minha orientadora, que saiu logo depois da palestra, sem ao menos se dirigir a mim. Até brinquei com meu colega Gilson "acho que os mestrandos recentes são inferiores, os professores só querem saber dos doutorandos".
É frustrante não ter retorno, nem depois de ter contribuído para palestra. Nem um olhar, nada.
nem depois do meu e-mail hoje.
Tento não pensar muito nisso ou enlouqueço. Começo a ter ideias de cinematográficas de rejeição.
Mas depois dessa palestra, dos textos de hoje e de matérias de jornais que leio casualmente, continuo me sentindo segura.
Só comecei a achar que minha proposta de pesquisa está ampla. Mas penso, será que está?
Quero falar da experiência diária de lecionar cinema. Dos desafios, dificuldades, acertos, erros, tentativas. Quero falar das outras experiências com cinema na escola, próximas e distantes, mas que também me fazem questionar se a minha prática não é melhor. Se minha formação me facilita, mas me falta nos assuntos pedagógicos. Assuntos que tenho me deparado e resolvido intuitivamente como brigas, falta de disciplina, desrespeito, notas, avaliações, tarefas, relações com e entre os alunos, inclusão e afins.
E me questiono se domino o sucifiente para ensinar. Talvez para uma escola, mas e na faculdade?
São tantas dúvidas, inseguranças, questionamentos que não parecem ter respostas e talvez nem tenham que ter.
Mas o desejo perfeccionista continua. Sempre.
Talvez a preocupação já seja um grande avanço. E é. Parece ser.
Preocupação em ser boa aluna, boa professora, boa educadora. Questionar meu trabalho e o do outro.
Mas devaneios a parte. Encerrada a palestra, não posso deixar de comentar os papo de quase uma hora que tive com meus colegas Gilson e "2009" (já que não lembro o nome) sobre cinema e o ensino de cinema. Falava, falava, contava, ria, debatia, pouco ouvia, mais me preocupava se estava sendo desagradável, e quase 1h da tarde, nos separamos.
Fui (vim) pra casa fazer almoço e pensar um pouco mais.

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